Friday, January 25, 2019

TESOURO NACIONAL: ADRIANA PRIETO






















 Difícil de imaginar uma garota carioca menos característica que Adriana Prieto.

Ela era branquinha, densa, introspectiva, noturna... e lindíssima!

Nascida em Buenos Aires em 1950, filha de um diplomata chileno com uma brasileira, veio para o Rio com a família aos quatro anos de idade, e desde pequena queria ser atriz.

Seu irmão mais velho, o maquiador e dublê de ator Carlos Prieto, decidiu fazer de Adriana uma espécie de projeto pessoal seu.

Ele a maquilava e a orientava nos ensaios, escolhia suas roupas, e a ajudava a forjar gestos e olhares semelhantes às de divas clássicas do cinema como Marlene Dietrich e Greta Garbo.

Adriana Prieto estreou no cinema em 1966, no filme El Justicero, de Nelson Pereira dos Santos, sendo premiada como melhor atriz coadjuvante do ano.

Com Lucia McCartney, baseado no conto de Rubem Fonseca, ganhou o Prêmio Air France de Cinema como melhor atriz de 1971.

Ainda em 1971, foi premiada como Melhor Atriz no Festival de Brasília por sua atuação no filme Um Anjo Mau.

Mas às vésperas do Natal de 1974, aos 24 anos de idade, Adriana Prieto morreu num acidente automobilístico, quando seu fusca foi atingido violentamente por um carro da polícia nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Ela tinha acabado de filmar O Casamento, ótimo filme de Arnaldo Jabor baseado no romance de Nelson Rodrigues -- disparado sua melhor performance como atriz até então.

Encerrava-se assim a curta e ascendente carreira de uma atriz que, em apenas 10 anos, participou de nada menos que 18 filmes, uma novela de TV e três peças de teatro.

Quarenta e quatro anos depois sua morte, Adriana permanece como uma referência importantíssima para as jovens atrizes de cinema. (Chico Marques)









 Adriana Prieto, Musa de Minha Juventude
(por um admirador anônimo de Campinas SP)

Nostálgico incorrigível, recupero fatos, acontecimentos, coisas que ficaram marcadas em vários períodos da vida, e algumas vezes compartilho com o leitor. Rapazes outonais como “nosoutros” hão de se lembrar desse ícone do cinema nacional que morreu estupidamente num acidente de automóvel às vésperas do Natal de 1975. Mulher que me alucinava incontrolavelmente. Nutria por ela uma paixão secreta. Paixão de jovenzinho de pau duro, acnes explodindo pelo rosto denunciando mega-produção de testosterona. Era alguém que me despertava qualquer coisa entre o tesão, o lirismo e o medo. Sentimentos ambíguos permeavam essa “relação”. Adriana Prieto, filha de uma brasileira com um diplomata chileno, nasceu em Buenos Aires. Com apenas 16 aninho,s fez seu primeiro filme no Brasil: “El Justiceiro”, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, trabalho posterior ao clássico “Vidas Secas”. Residindo em Quintino Bocaiúva no subúrbio carioca; de manhã estudava na Tijuca e no cair da noite batalhava por papéis em teatro em Copacabana. O filme de Nelson era uma sátira escrachada aos militares, à burguesia e à turma da esquerda. Talvez tenha sido o filme Cinema-Novo-Rio-Zona-Sul mais diabólico já produzido. Gerou ódios e paixões. Reuni aqui algumas apreciações sobre ela que dão um perfil desse encantamento.Segundo Daniel Caetano, “foi o filme de Nelson Pereira mais proibido pela ditadura, prova de que não entenderam nada. Implicaram com as gozações pra cima do pai de El Jus, El General, e por conta disso limaram parte do som dos diálogos. Depois resolveram apreender o filme, e levaram cópias e negativos, e o que se tem do filme -- um contratipo e cópias -- só foi possível graças a uma cópia em 16mm esquecida em Pesaro, por conta de um festival na época, e encontrada por David Neves”. Foi logo nessa estréia conturbada que Prieto recebeu o Prêmio Governador do Estado do Rio de Janeiro de melhor atriz coadjuvante. Dizem que Nelson fez o filme meio nas coxas. Mas a menina nascida portenha com sangue brasileiro exibiu desde cedo raro talento e beleza. Viveu praticamente para e do cinema, coisa rara hoje em dia. As palavras para descrevê-la iam de “envergonhada” a “deslumbrante de linda” (Arnaldo Jabor). Outro filme famoso de Adriana é “Lúcia McCartney”, dirigido por David Neves em 1971. Roteirizado por Rubem Fonseca, autor dos dois contos que serviram de base à história da garota de programa, o filme termina com esse texto: “Os homens, os mais jovens em menor medida, e os adultos plenamente, vão ao bordel em busca de ficção”. Por Lúcia, a mais famosa fã dos Beatles da literatura brasileira, Adriana recebeu o Prêmio Air France. David morreu pobre, deprimido, portador do vírus da aids e abandonado pelos amigos. A história de Prieto foi entremeada por momentos difíceis: teve um pai ausente; um irmão homossexual controlador que morreu de aids e uma mãe com a qual se relacionava dubiamente. Apesar de ter sido internada pela mãe em um colégio de freiras, onde foi molestada, ao mesmo tempo se preocupava com ela, pois afinal de contas era a sua mãe. Adriana só se naturalizou brasileira aos 21 anos. “Adriana ganhara de meu pai, um ex-morador do subúrbio carioca — e por isso rodriguiano nato —, um apelido carinhoso — Moitinha —, que pegou instantaneamente, de tão perfeito. Embora reservada, ela tinha uma maneira peculiarmente delicada, só dela, de se proteger da curiosidade alheia: ao estímulo, durante nossas conversas à mesa, respondia com uma deliciosa gargalhada marota e absolutamente infantil, baixando os cantos da pequena boca como que a domar um possível excesso de euforia. Risinho de alma impenetrável. Às vezes, seu olhar quase a traía, ameaçando entregar os segredos da dona, mas Adriana se abria muito pouco e não se queixava. Era seu jeito de ser: na moita.” (Márcia Lessin Rodrigues). As jovens Adriana Prieto e Cláudia Lessin, morta em um caso muito comentado na época. “tiveram mortes trágicas, indiretamente intermediadas pelo mesmo homem: um desses seres-abutres que, embora vivam e se vistam como nós, habitam as trevas e de lá saem, (...), apenas para sugar às mulheres a vida e, quando conseguem, semear-lhes a morte. Adriana morreu vítima de um acidente de automóvel, conduzida pelas mãos desse homem que, anos depois, apresentou minha irmã, dependente química, aos seus futuros assassinos” afirmou a atriz Márcia Rodrigues, irmã de Cláudia e amiga de Adriana, em depoimento .Adriana havia insistido com Arnaldo Jabor para fazer o papel de Glorinha em “O Casamento”. Paulo Porto, co-produtor do filme não ia com a cara do Carlinhos Prieto, irmão da Adriana. Ela entrou no filme sem o irmão. O próprio Jabor explica: “Ela tinha uma violência interna, uma revolta que eu não sei bem o que era. Um ódio. Ela se sentia muito usada, inclusive pelo namorado. Era muito bonita e as pessoas ficavam só querendo comer ela. E ao mesmo tempo ela era muito solitária.” Sobre as coincidências trágicas do filme: “... Eu tinha medo que ela morresse. Ela estava tão desesperada, numa crise de namoro, não lembro com quem era. Ela saía com o carro, ela tinha um Volks, saía com aquela porra daquele carro quando terminava a filmagem e eu falava: "Adriana vai devagar”. Realmente, esse filme... até gosto de bater na madeira. Paulinho já morreu, morreram todos. Paulo Porto, Adriana e Carlinhos, morreram os três, puta merda. Esse filme é um filme fúnebre. Morreu o dono da casa onde eu filmei. Morreu o cara que fez o som, de 28 anos: teve um ataque cardíaco e caiu morto. O sócio do meu filme se suicidou, o produtor Sidney Cavalcanti, meteu a cabeça no forno, tinha 27 anos de idade. Morreu Abel Pera. Tem uma sequência em que Adriana tem um pesadelo e sonha que está morrendo depois de um aborto, no mesmo lugar onde ela morreu de verdade, no hospital Miguel Couto. E ela foi colocada na mesa do necrotério onde ficou o namorado dela no filme, que morre num desastre.” (Arnaldo Jabor) A atriz de 25 anos morreu em 1975, de acidente de automóvel, na véspera de Natal, sete dias depois de terminar as filmagens de “O Casamento”. Seu fusca foi atingido violentamente por um carro de polícia. A atriz Norma Blum teve que dublar Adriana/Glorinha no filme, pois na época não se trabalhava com som direto no cinema brasileiro.





El Justiceiro
(1967 Nelson Pereira dos Santos)
A Lei do Cão
(1967 Jece Valadão)
As Sete Faces de um Cafajeste
(1968 Jece Valadão)
Os Paqueras
(1969 Reginaldo Farias)
As Duas Faces da Moeda
(1969 Domingos de Oliveira)
A Penúltima Donzela
(1969 Fernando Amaral)
Balada da Página Três
(1968 Luiz Rosemberg)
Memória de Helena
(1969 David Neves)
Uma Mulher para Sábado
(1971 Maurício Rittner)
O Palácio dos Anjos
(1970 Walter Hugo Khouri)
As Gatinhas
(1970 Astolfo Araújo)
Ipanema Toda Nua
(1971 Líbero Miguel)
Lúcia McCartney
(1971 David Neves)
Soninha Toda Pura
(1971 Aurélio Teixeira)
Um Anjo Mau
(1972 Roberto Santos)
A Viúva Virgem
(1972 Pedro Carlos Róvai)
Ainda Agarro Essa Vizinha
(1974 Pedro Carlos Róva)
O Casamento
(1975 Arnaldo Jabor)

Quem quiser conhecer melhor a vida artística de Adriana Prieto, recomendo a leitura do dicionário ASTROS E ESTRELAS DO CINEMA BRASILEIRO, publicada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo na Coleção APLAUSO. Apesar da edição não estar esgotada, o livro é meio difícil de encontrar nas livrarias. Mas a versão versão PDF do livro pode ser baixada gratuitamente AQUI, direto do portal da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, assim como todos os outros volumes da Coleção APLAUSO, coordenada por Rubens Ewald Filho e editada por Marcelo Pestana e Carlos Cirne.



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