A
jornalista Mônica Veloso, aquela a quem o senador Renan Calheiros (PMDB-AL)
costuma se referir como “a gestante”, concedeu uma entrevista exclusiva a VEJA.
A combinação do que ela diz com as informações dos extratos bancários do pai de
sua filha sugere que Renan contou a seus pares uma história fantasiosa, o que
agrava a sua situação se o Senado se levar a sério. Abaixo, seguem trechos e
link da reportagem de Policarpo Jr, com a entrevista. Se você ler a matéria na
íntegra, vai perceber por que a versão de Renan não resiste nem mesmo a uma
análise criteriosa de seu extrato bancário. O relator do caso no Conselho de
Ética, “Um homem chamado Cafeteira” (PTB-MA), disse que não pretende convocar a
jornalista para depor. Ele deve saber por quê.
Há
duas semanas, VEJA revelou que o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas,
teve algumas de suas despesas pessoais pagas por Cláudio Gontijo, lobista da
construtora Mendes Júnior. O senador recorreu aos préstimos financeiros do
lobista para pagar a pensão e o aluguel da jornalista Mônica Veloso, com quem
tem uma filha de 3 anos. Desde então, todos os personagens do caso já se
manifestaram publicamente. O senador admitiu que pediu ao lobista que atuasse
como intermediário entre ele e a jornalista, mas garantiu que o dinheiro era
seu. O lobista, em depoimento no Senado, confirmou a versão do senador. Até a
esposa de Calheiros, Verônica, falou sobre o caso, embora tenha discorrido
sobre o romance extraconjugal do senador, assunto que só interessa a ela e ao
seu marido, e não tenha dito mais do que uma palavra sobre a origem do dinheiro
que bancava a pensão e o aluguel, assunto, esse sim, que interessa ao país.
A
única personagem que ainda não havia contado sua versão resolveu falar. A
jornalista Mônica Veloso, 38 anos, em entrevista exclusiva a VEJA, conta que:
•
o dinheiro que recebia era sempre pago pelo lobista da Mendes Júnior;
•
os pagamentos eram sempre em dinheiro vivo;
•
como regra, os pagamentos eram feitos no escritório da Mendes Júnior em
Brasília. Poucas vezes aconteceram fora dali;
•
Renan Calheiros nunca falava de dinheiro e nunca lhe dissera que o dinheiro era
dele;
•
sempre que tinha de tratar de dinheiro, o interlocutor era o lobista Cláudio
Gontijo, nunca o senador.
Onde
a senhora pegava o dinheiro?
MÕNICA
– Na maioria das vezes, era no escritório da Mendes Júnior. Mas houve várias
formas. Nos últimos meses da gravidez (a criança nasceu em julho de 2004) e no
período do resguardo, o Cláudio me entregava os envelopes com dinheiro na minha
casa, na minha produtora… Mas, depois disso, eu ia buscar o dinheiro na Mendes
Júnior e o depositava na minha conta. Não tenho o costume de guardar dinheiro
debaixo do colchão.
A
senhora pegava o dinheiro na portaria do edifício da Mendes Júnior ou entrava
no escritório?
MÔNICA
– Eu chegava ao prédio e me identificava na portaria. Eles anotam nome,
identidade, hora e a sala aonde você vai. Se eles guardaram esses registros, é
só conferir que minhas entradas estarão todas lá. Eu pegava o elevador até o
11º andar. Lá, me anunciava no interfone e a secretária abria a porta do
escritório.
A
entrevista de Mônica, associada ao depoimento do lobista e aos extratos do
senador, derruba algumas versões e mantém a dúvida central: quem pagava as
despesas do senador? Na semana passada, o conselho de ética do Senado abriu
processo para investigar as ligações do senador com o lobista. O senador não
gostou. Preferia que o caso fosse encerrado logo. Mas é engano imaginar que a
abertura de processo significa que o Senado está empenhado numa investigação
séria. A maioria dos senadores está decidida a acabar com o assunto de uma vez,
mas precisa produzir ao menos um simulacro de legalidade. É assim que funcionam
os clubinhos fechados. O relator do caso será o senador Epitácio Cafeteira, 82
anos, do PTB do Maranhão, aliado de Renan Calheiros e José Sarney. Quando o
jornal O Globo perguntou a Cafeteira se ele pretende convocar a jornalista para
depor, o senador deixou evidente sua disposição de abafar o caso: “Chamar a
moça para quê? Para fofocar?”. Não, Cafeteira, chame a moça para ajudá-los a
fazer contas. (Reinaldo Azevedo, 09Junho2007)