Olha, desta
vez você passou das medidas. Só não boto você para fora, agora, porque é a sua
cara dar escândalo.
Estou cheia de
você atrás de mim o tempo todo. Fica se fazendo de fofa, enquanto, pelas minhas
costas, chama a atenção de todo mundo para meus defeitos.
Você está
redondamente enganada se pensa que eu vou me rebaixar ao seu nível – o que vem
de baixo não me atinge. Mas faço questão de desancar essa sua pose empinada.
Por que nunca
encara as coisas de frente?
Fica parecendo
que tem algo a esconder. Por acaso, faz alguma coisa que ninguém pode saber?
Você é, e
sempre foi, um peso na minha existência – cada papel que me fez passar...
Diz-se sensível e profunda, mas está sempre voltada para aquilo que já
aconteceu. Tenho vergonha de apresentar você às pessoas, sabia?
Por que você
nunca encara as coisas de frente, bunda? Fica parecendo que, no fundo, tem algo
a esconder. Por acaso, faz alguma coisa que ninguém pode saber? O que há por
trás de todo esse silêncio?
Você diz que
está dividida e que eu preciso ver os dois lados da questão. Ora, seja mais
firme, deixe de balançar nas suas posições.
Longe de mim
querer me meter na sua vida privada, mas a impressão que dá é que você não se
enxerga. Porque está longe de ter nascido virada para a lua e costuma se
comportar como se fosse o centro das atenções.
Bunda, você
mora de fundos, num lugar abafado. Nunca sai para dar uma volta, nunca toma um
sol, nunca respira um ar puro. Vive enfurnada, sem o mínimo contato com a
natureza. O máximo que se permite é aparecer numa praia de vez em quando, toda
branquela.
Não é de
admirar que esteja sempre por baixo. Tentei levar você para fazer ginástica,
querendo deixar você mais para cima, mas fingiu que não escutou.
Saiba que você
não é mais aquela, diria até que anda meio caída. E vai ter que rebolar para
mexer comigo, de novo, da maneira que mexia.
Lembro do
tempo em que eu, desbundada, sonhava em ter um pouquinho mais de você. Agora,
acho que o que temos já está de bom tamanho. E, pensando bem, é melhor pararmos
por aqui antes que uma de nós acabe machucada.
Sei que
qualquer coisinha deixa você balançada, então não vou expor suas duas faces em
público. Mas fique sabendo que, se você aparecer, constrangendo-me diante de
outras pessoas, levarei seu caso ao doutor Albuquerque.
Lamento, isso
dói mais em mim do que em você, mas você merece o chute que estou lhe dando.
Duplamente decepcionada,