Quando Maria
Amélia começou a dar leite, todos pensaram que estivesse grávida. Veio primeiro
a surra do pai. Segundo, os chás da mãe e por último um doutor muito discreto
afastou as perninhas da menina e decretou: essa aí ainda é virgem. Maria Amélia
voltou para a casa com a recomendação de não usar sutiã e a garantia de que o
leite secaria sozinho.
Dizem que a
diferença entre um médico e Deus é que Deus sabe que não é médico mas médico
não sabe que é Deus - e era nessa piada que Maria Amélia pensava quando
adormeceu. Naquela noite, sonhou que era um sapo gordo nadando em um banhado e
acordou em meio a poças esbranquiçadas. Levantou, trocou de camisola e pôs a
roupa de cama para lavar. Por mais três noites Maria Amélia seguiu a
recomendação do médico e durante três noites sonhou que era um polvo, baleia
jubarte e tartaruga dos galápagos, acordando sempre com as mamas vazadas.
Na quarta
noite Maria Amélia concluiu que o que dizem sobre os médicos era verdade e
resolveu solucionar seu problema a sua maneira: pressionou o corpo contra um
copo e apertou o seio esquerdo até esvazia-lo. Corando, a menina despejou o
conteúdo no vaso sanitário, olhando, admirada, o que seu peito acabara de
produzir. Realizou o mesmo processo com o outro peito e, pela primeira vez em
quatro dias, sonhou que era um dromedário atravessando o deserto do Saara.
Acordou seca e feliz como em propaganda de absorvente.
Satisfeita com
sua engenhosidade, Maria Amélia passou a ordenhar os seios todas as noites
antes de dormir, despejando o conteúdo no banheiro. Não demorou para que
passasse a sentir certo dó em misturar sua produção com os dejetos de toda família.
Afinal, seu leite merecia destino melhor do que uma piscina de tratamento de
esgoto. Regar a floreira debaixo de sua janela pareceu a coisa mais digna e
poética a se fazer. Quando se deu conta, Maria Amélia estava chamando seu
ritual de "amamentar as rosas''. Culpa do leite ou do clima, a verdade é
que as flores passaram a crescer graúdas e brancas, despertando a admiração dos
vizinhos.
Não eram
apenas as flores que arrancavam suspiros no bairro. A cada dia que passava as
tetas de Maria pareciam mais redondas. O primeiro a aparecer foi Pedro Amaral,
seguido de João dos Santos e Diego Neto. O pai anunciou para quem quisesse
ouvir que Maria só namoraria depois dos quinze.
A princípio, a
menina se alegrou com a proibição paterna: detestava o nariz de Pedro e João
tinha voz de mulher. Contudo, passou a conversar com Diego Neto todas as noites
e concluiu que queria mesmo era ser beijada, e não dar as mãos na sala de
estar. Apesar do aspecto pouco inteligente, Diego era ávido com as mãos e
tentava de todas as maneiras apalpar a menina. Quando Maria Amélia finalmente
permitiu que ele sugasse seus seios, descobriu que o que o padre Antônio falava
era absolutamente verdade: Deus fez cada parte do corpo para uma função, e essa
função só traz alegria, nunca tristeza.
Sem saber que
aquela era uma metáfora para sexo anal, Maria Amélia passou a abrir a janela de
seu quarto e pendurar as mamas no parapeito da janela. Do lado de fora da casa,
Diego mamava feito um bezerro. Seguiram com esse ritual por muitas noites, até
que uma umidade incomum na calcinha de Maria Amélia convidou o rapaz para
entrar.
O líquido
branco que Diego mamava em suas tetas fazia jorrar outro líquido do seu pau. E
Maria Amélia conheceu a definição da palavra orgasmo antes de saber o seu nome.
As flores
murcharam e a menstruação não veio.
Aflita, Maria
apelou para os chás da mãe. Dias depois, saiu de sua vagina um pedaço de carne
retorcida. Maria o enterrou junto com suas flores, terminou o relacionamento
com Diego e, por fim, concluiu que homens podem até dar alegrias, mas
jardinagem dá mais.
Dizem que as
rosas do parapeito de sua casa continuam sendo as mais lindas da cidade.
(publicado originalmente em O SEGUNDO CU)
No comments:
Post a Comment