Muita gente me acha
meio pé-de-boi demais nas minhas colocações. Tudo bem, eu até sou. Mas no fundo
no fundo, acreditem: existe em mim uma mulher sensível e extremamente descolada
em termos intelectuais. Aos 69 anos de idade -- e pelo menos 55 de velcro --
posso afirmar categoricamente que sempre fui fascinada pelas mulheres do cinema
europeu -- particularmente do cinema francês do final dos Anos 50 e dos 60
também. E posso afirmar a todos vocês que nenhuma atriz soube esboçar e
incorporar mulheres classudas, densas e inusitadas do que Stéphane Audran. Fez
muito teatro antes de estrear no cinema, aos 25 anos de idade. Mas estreou já
bem conhecida do público parisiense, e alcançou papeis de protagonista com
relativa rapidez em meio a toda a efervescência da nouvelle vague. Ouve um
tempo em que Audran parecia onipresente. Não só participava de todos os filmes
de seu marido Claude Chabrol, como ainda achava tempo para trabalhar com alguns
dos melhores diretores europeus da época, como Jacques Demy, François Truffaut
e Luis Buñuel. Poucas atrizes francesas possuem uma filmografia tão extensa e
tão qualificada quanto a dele. Não satisfeita com isso, decidiu, depois de se
separar de Chabrol em 1980, que dalí por diante iria começar a correr atrás de
papeis completamente diferentes de todos os que ela havia interpretado até
então, e deu início a um capítulo 2 em sua carreira, praticamente tão glorioso
quanto o capítulo 1. E então, ganhou projeção mundial como a cozinheira do
clássico A Festa de Babette,
talvez seu filme mais conhecido, com direito a indicações ao Oscar e aos Golden
Globes e tudo mais. Manteve-se na ativa até 10 anos atrás, quando decidiu se
aposentar depois de excelentes serviços prestados ao cinema europeu. Saiu de
cena no início deste ano, aos 86 anos de idade. Graciosa e reservadamente.
Como a grande dama que sempre foi. (Ju Cartwright)
MOMOMOMOMO
No comments:
Post a Comment