Me disseram
que na na década de cinquenta uma mulher batia punheta para um golfinho em um aquário
construído pela Nasa.
É claro que no
começo não foi assim. No começo os cientistas buscavam uma golfinha para que o
golfinho esvaziasse o pau dentro. Mas não era isso que ele queria, e se ter
fome de doce e ser obrigado a comer salgado é uma das piores coisas que pode
acontecer a um ser humano que tem sorte, quem dirá a um golfinho da Nasa. O
objetivo do experimento era fazer o golfinho falar inglês. Americanos na década
de cinquenta acharam que se mexicanos conseguiam essa proeza, quem dirá animais
que eles valorizavam mais. O golfinho e a mulher dormiam juntos, acordavam
juntos e comiam juntos em uma espécie de aquário hotel. A mulher era bonita e
jovem e tinha pernas firmes e o golfinho era
bom,
era um
golfinho. Durante as aulas de inglês ele colocava o pau para fora e se esfregava
contra as coxas da mulher como uma criança que não consegue alcançar os bibelôs
de vidro da prateleira da avó. Concluíram que o golfinho tinha se apaixonado e
recomendaram que a mulher tocasse uma para ele para que tudo se resolvesse mais
rápido. Transportar uma golfinha toda vez que o golfinho tirava o caralho pra
fora do corpo era trabalhoso demais, e além disso, os cientistas concluíram que
o golfinho estava apaixonado, já que eram todos cientistas homens e quando um
homem quer enfiar o pau nos buracos de uma mulher, chama isso de amor.
A moça passou
um ano entre punheta e aula de inglês. Trezentos e sessenta e cinco dias depois
duas mil crianças mexicanas que tinham cruzado a fronteira de madrugada já
falavam inglês fluentemente, e o golfinho seguia mudo e os cientistas ficaram
envergonhados e tiveram medo que os russos começassem a fazer piadas envolvendo
o golfinho Flipper e filmes pornô. Demitiram a moça que tocava punheta e
recitava o ei-bi-ci e colocaram o golfinho num tanque.
O golfinho esperou
pela volta da moça e depois pela volta do peixe e depois pela volta de alguém
que tocasse nele
e não vindo
ninguém, se matou e o que me deixa mais triste é saber que nessa história eu
sou o golfinho. Nessa história você nunca deveria ter encostado a mão no meu
corpo e nem me ensinado uma língua que não tinha como caber na minha boca. Como
todo golfinho, eu não fui ensinada a bater de volta
como todo
golfinho, eu fui treinada para ser acessível
para ser
bonita e macia ao toque
como um
golfinho eu não falo a língua dos homens e não vejo maldade nos olhos a não ser
que me treinem, que me ensinem, que me tragam peixes e
como um
golfinho eu respiro por um furo só, fácil de ser tapado
puxar o ar é
mais difícil quando não se entende as coisas
você não deveria
ter encostado em mim.
(publicado originalmente em O SEGUNDO CU)
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