“Amiga, opera
a cura hetero em mim que eu quero sexo bom pro resto da minha vida”, disse uma
amiga dia desses.
Poxa, bem que
eu queria poder operar a cura heterossexual por aí. Mas além da tristeza de não
ter esse poder, a fala me fez pensar: as pessoas têm umas ideias muito loucas
sobre como seria o sexo entre mulheres, né?
Eu estava num
dilema com essa coluna: não é meu lugar de fala escrever sobre o ser lésbica,
mas também não podia deixar a data passar em branco. Depois de muito pensar,
achei que seria um ótimo momento de usar esse espaço focado em sexo para
desmistificar algumas ideias que as pessoas têm sobre o sexo entre mulheres.
Assim a gente
evita falas preconceituosas e também não se ilude achando que basta gostar de
mulher para resolver todos os problemas sexuais da vida.
1. É SEXO
Parece
besteira começar assim. Mas tem gente que acha que se não há um pênis
envolvido, não é sexo. Mas não é bem assim. Já faz muito tempo que se considera
sexo um monte de coisa além do coito (o ato da penetração do pênis na vagina
com fins reprodutivos). Sexo é a troca física entre duas pessoas com objetivo
de sentir prazer e é um conceito muito amplo. Tem gente que acha que até
beijo é sexo. Pode até render um debate. Mas quando falamos em duas mulheres
(cisgêneras ou trangêneras) transando, é sexo sim.
2. NÃO É SÓ
SEXO ORAL
Já vi gente
surpresa de escutar que lésbicas não ficam só chupando uma à outra. Veja só! O
sexo entre mulheres envolve um monte de formas de estimular o corpo. Vai dizer
que nunca ouviu falar de tesourinha? Também se usa muito a mão… E, inclusive, é
mais comum que no sexo entre mulheres as envolvidas lembrem que existe um corpo
todo ali, para muito além dos genitais, e que dá para sentir prazer de muitos
(muitos mesmo) jeitos.
3. PODE TER
PENETRAÇÃO
Existe uma
ideia comum de que o sexo entre mulheres não envolve penetração. Mas isso não é
verdade. Algumas não gostam de ser penetradas, outras adoram. Muitos casais de
mulheres usam dildos e vibradores para isso. O dedo também pode entrar na
equação. E ainda existem mulheres trans que têm pênis e cujas parceiras gostam
da penetração. A verdade, mais verdadeira, é que assim como no sexo entre
homens ou no hétero, no sexo entre mulheres existe uma infinidade de
possibilidades de práticas e jeitos de fazer. Quando as duas ali querem, vale
tudo. Um detalhe: Pode rolar eventualmente transmissão de infecções sexualmente transmissíveis entre mulheres também.
Mas não vou me estender aqui porque tem uma reportagem inteira sobre isso
saindo esta semana com explicações mais detalhadas sobre os riscos e formas de
prevenção.
4. NÃO
ACONTECE PARA EXCITAR HOMENS
Pode parecer
óbvio, mas dá uma busca em canais de pornografia para ver o que muita gente
acha que é o sexo entre mulheres: praticamente um show de exibicionismo para
excitar os homens. E por isso é comum que casais de mulheres ouçam falas como
“posso participar?”, quando estão se beijando. Acho que nossa sociedade
está tão acostumada a pensar a sexualidade a partir de um ponto de vista
masculino, que tem homem que honestamente não entende que não é sobre ele. Mas
é bom saber que, no geral, quando duas mulheres transam, elas estão procurando
excitar uma à outra e só. Detalhe importante: ao contrário
do sexo entre mulheres, a pornografia lésbica tem um volume bem grande de
material feito para excitar homens. E que simplesmente não têm lastro com a
realidade. Unhas gigantes, por exemplo, são o terror do sexo sapatão. Além
disso, tapas na ppk. Com certeza deve ter alguém que gosta, mas não é assim tão
recorrente quanto nos vídeos. E nem vamos falar da língua dura que tenta fazer
as vezes do pênis…
5. NÃO É
PORQUE É MULHER, QUE FAZ GOSTOSO
Essa é pra
amiga que quer ser convertida na esperança de só ter transas boas: você vai se
frustrar. Até porque, o que é fazer gostoso, né? Cada uma tem um gosto, uma
sensibilidade, um ritmo. Então pode acontecer de uma não curtir o jeito que a
outra chupa, ou o ritmo com que se mexe. Como todo sexo, é encontro. E claro,
também, envolve prática. A mulher que nunca transou com mulher vai precisar de
algum tempo para se adaptar aos novos jeitos de fazer e desapegar o ritmo
frenético da britadeira aprendido com os homens.
Helena Bertho é
jornalista formada pela USP e com pós-graduação em roteiro pela FAAP. Já atuou
em diversos veículos, como UOL, M de Mulher, Veja São Paulo e a Revista Sou
Mais Eu. Especializada em cobertura de gênero, direitos humanos, diversidade e
sexualidade, é editora chefe da Revista AzMina, onde este texto foi originalmente publicado, e também escreve a coluna
quinzenal sobre sexo na revista, que pode ser acessada neste endereço web: https://azmina.com.br
O pintor pós-impressionista Antoine de Toulouse-Lautrec é o responsável pelas lindas imagens de sacanagem entre mulheres utilizadas para ilustrar este texto.
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