GANHAR
O MUNDO
“A
moda não gostava muito de mim. Queria mesmo era conhecer outros lugares! Usei a
beleza como um trampolim, saltei para longe de Porto Alegre, onde nasci, e, na
volta, já aterrissei em São Paulo. Foi uma fase de muita dureza, de muita
solidão. Mas eu sabia que era um período em que eu precisava me construir.”
“Naquela
época, só queria fazer a vontade do meu pai e dar a ele um diploma
universitário. Trabalhava e estudava ao mesmo tempo. Escolhi jornalismo
simplesmente porque sabia que não queria ser médica nem advogada, nem arquiteta
e nem modelo! Foi quando reparei que tinha mais facilidade em passar nos testes
de vídeo do que nos de foto. E acabei indo parar na MTV, onde comandei o “Mochilão”,
um programa de aventuras onde realizei o sonho de rodar o mundo.”
“Nunca
mais larguei a TV desde “Mochilão”, embora a relação tenha tido altos e baixos.
Quando substitui Angélica, em licença-maternidade, no Vídeo Game, pouca gente
levou fé. Mas as críticas pesadas que recebi quando fiz a novela “Bang Bang” (2005),
me derrubaram. Sofri demais. Fiquei no chão, arrasada. Eu era só uma iniciante.
Realmente, eu não era boa, mas é que eu não sou uma atriz. Não escolhi ser uma
atriz.”
“Quando
veio outra chance de substituir Angélica, que estava no fim de mais uma
gravidez, briguei pelo lugar. Eu também já estava grávida dos gêmeos, mas não
contei pra ninguém, nem na Globo. Tive medo de não me darem o lugar.”
O
GRANDE AMOR
“Quando
eu conheci o Rodrigo [Hilbert], eu reconheci minha infância, resgatei aqueles
valores, sentar-se à mesa com a família no jantar, respeitar os mais velhos,
desejar muitos filhos. Eu sempre quis ser mãe. E, quando conheci o Rodrigo, eu
achei o pai”.
“Quando vi que o Rodrigo tinha arranjado outra
namorada depois de termos brigado e que a separação tinha virado algo realmente
sério, corri atrás dele e disse: ‘Eu te amo e quero ficar com você!’ Eu não quero
perder o homem da minha vida!”.
“Quando
Rodrigo e eu nos casamos, comprei um terreno num condomínio do Rio de Janeiro
que só tinha uma edícula. Nossa piscina era uma caixa d’água. A gente foi tão
feliz ali!”
“Quando
eu conheci o Rodrigo, eu reconheci minha infância, resgatei aqueles valores,
sentar-se à mesa com a família no jantar, respeitar os mais velhos, desejar
muitos filhos, coisas assim...”
FOCO
E FORÇA
“A nossa mente tá sempre tentando nos
trapacear. Então, se tu consegues controlar a tua mente, tu consegues ganhar o
mundo. Eu não teria nem tido essa conversa com você se eu não tivesse tido a
experiência da ioga, que fez muito sentido pra mim. Eu me encontrei, me
conheci, e eu queria muito que as pessoas das comunidades de periferia tivessem
essa oportunidade também.”
“Atualmente,
mantenho um professor que dá aulas a 15 alunos na Cidade de Deus, no Rio. E, no
Cais do Porto, colaboro com a Escola Spectaculu, do artista visual Gringo
Cardia, que promove cursos de formação técnica para jovens em situação de
vulnerabilidade”.
AMOR
& SEXO
“Nós bebemos do machismo na mamadeira. A gente
vive dessa opressão a vida inteira. A gente riu do oprimido a vida inteira. Por
isso que eu digo que Amor & Sexo me fez muito bem. Eu aprendo todos os dias
a lidar com as novas situações que se apresentam ali.”
“Não estamos falando só de mulheres, estamos
falando de LGBTTs, de crianças, estamos vivendo um momento que até parece um
exagero porque são muitas frentes. Até a gente se organizar, vai precisar de um
tempo. Mas até lá a gente tem que pegar tudo e fazer vrum, botar tudo no chão.
Ah, mas não pode fiu-fiu? Não. Neste momento não pode fiu-fiu. Não pode nada.
Até a gente entender quais serão as novas normas, porque essas normas antigas a
gente não quer mais. Porque o fiu-fiu leva ao feminicídio. Não é que a gente
não quer ser chamada de gostosa, mas agora vamos entender onde é que vai dar isso.
Então vamos botar tudo por terra e começar tudo de novo.”
“A gente poder falar ao microfone é um negócio
muito poderoso, a gente tem uma responsabilidade enorme, não cabe mais fazer da
minha vida a bonitinha do Instagram, foto de biquíni, selfie, não. Agora eu
tenho que dar conta disso aqui.”
CHEGAR
AOS 40
“Eu escolhi isso, eu quero, eu busco. Tudo que
eu quero é ser uma pessoa interessante quando eu estiver mais velha. Sempre
procuro nas pessoas mais velhas onde está a luz. Está sempre nos olhos. Tem
gente que envelhece e a luz nos olhos se apaga. E tem aquelas com vibração, com
desejo no olhar. E eu penso: ‘É assim que eu quero ser!’.”
“A pele já me incomoda. Não tenho mais a pele
de guria. Ainda vou à praia de biquíni, ainda mantenho barriga tanquinho, mas a
pele é de uma mulher que é mãe de dois filhos e que teve um barrigão, e isso
não é a coisa mais agradável do mundo”.
ASSÉDIO,
NÃO
“Eu sofri com as pessoas dizendo: ‘Do que essa
mulher linda, loira, magra, tá reclamando?’. Doeu. As mulheres que diziam isso
estavam repetindo estereótipos, elas não estavam entendendo; eu tinha que dar a
mão para elas. Espero que nenhuma delas sofra com violência, porque uma mulher
que diz isso nunca sofreu uma violência, nunca foi estuprada, assediada,
violentada; então eu dou minha mão pra elas. Pra elas entenderem.”
“Sabe o que mais me incomodou nesse
desentendimento com Sílvio Santos (que a chamou publicamente de “magrela sem
graça”)? Parecer que eu estava de frescura porque ele me chamou de magrela. A
questão não é essa. Eu não sou nada. Quantas mulheres morrem de bulimia,
anorexia, dismorfia porque se olham no espelho e se veem gordas. Quantas
mulheres ele oprimiu chamando de gordas. Quantas mulheres sofrem com a
gordofobia… Não é justo comigo as pessoas acharem que eu tô chateadinha porque
fui chamada de magra. Não é comigo, é com todas as pessoas, e não é o Silvio
Santos, são todos. Você acha que os homens gostaram do que eu falei pro Silvio?
Não! Porque no fundo eu falei pra todos eles.”
“Sim, quando você se posiciona dessa maneira,
está representando muitas pessoas.” Fernanda pensa um instante, olha para baixo
e me conta um caso. Diz que foi a um evento em que uma jovem negra se aproximou
e falou que também havia escrito o que pensava sobre Silvio Santos em seu blog.
O texto foi lido por cerca de 60 pessoas. E, quando ela leu o que Fernanda
escreveu, atingindo boa parte do Brasil, se sentiu representada. “Nós não somos
a mesma pessoa. Ela sabe quem eu sou e eu sei quem ela é, mas, quando ela diz
que eu a representei nesse episódio, eu penso: ‘Puxa, valeu’. Hoje me sinto bem
mais preparada pra debater esses assuntos porque sei da importância de dividir
esse protagonismo com um monte de mulheres que estão aí e são maravilhosas, mas
não têm espaço.”
“Sou
uma Canceriana típica, sofro muito. Eu me tornei um ser político. E aí, quando
tu me perguntas: ‘Tu és feminista?’. Hoje, com toda certeza, eu te digo que
sim. Se eu pensar no meu passado, minha trajetória toda foi feminista. Eu nunca
deixei que um homem me mandasse calar a boca, nunca me deixei ser violentada a
ponto de não me defender, nunca desisti de nada por ter alguém competindo
comigo. Então eu tenho direito de estar aqui e de gostar de quem eu sou.”
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