Wednesday, July 18, 2018

TESOURO NACIONAL: FERNANDA LIMA





GANHAR O MUNDO

“A moda não gostava muito de mim. Queria mesmo era conhecer outros lugares! Usei a beleza como um trampolim, saltei para longe de Porto Alegre, onde nasci, e, na volta, já aterrissei em São Paulo. Foi uma fase de muita dureza, de muita solidão. Mas eu sabia que era um período em que eu precisava me construir.”

“Naquela época, só queria fazer a vontade do meu pai e dar a ele um diploma universitário. Trabalhava e estudava ao mesmo tempo. Escolhi jornalismo simplesmente porque sabia que não queria ser médica nem advogada, nem arquiteta e nem modelo! Foi quando reparei que tinha mais facilidade em passar nos testes de vídeo do que nos de foto. E acabei indo parar na MTV, onde comandei o “Mochilão”, um programa de aventuras onde realizei o sonho de rodar o mundo.”

“Nunca mais larguei a TV desde “Mochilão”, embora a relação tenha tido altos e baixos. Quando substitui Angélica, em licença-maternidade, no Vídeo Game, pouca gente levou fé. Mas as críticas pesadas que recebi quando fiz a novela “Bang Bang” (2005), me derrubaram. Sofri demais. Fiquei no chão, arrasada. Eu era só uma iniciante. Realmente, eu não era boa, mas é que eu não sou uma atriz. Não escolhi ser uma atriz.”

“Quando veio outra chance de substituir Angélica, que estava no fim de mais uma gravidez, briguei pelo lugar. Eu também já estava grávida dos gêmeos, mas não contei pra ninguém, nem na Globo. Tive medo de não me darem o lugar.”

O GRANDE AMOR

“Quando eu conheci o Rodrigo [Hilbert], eu reconheci minha infância, resgatei aqueles valores, sentar-se à mesa com a família no jantar, respeitar os mais velhos, desejar muitos filhos. Eu sempre quis ser mãe. E, quando conheci o Rodrigo, eu achei o pai”.

 “Quando vi que o Rodrigo tinha arranjado outra namorada depois de termos brigado e que a separação tinha virado algo realmente sério, corri atrás dele e disse: ‘Eu te amo e quero ficar com você!’ Eu não quero perder o homem da minha vida!”.

“Quando Rodrigo e eu nos casamos, comprei um terreno num condomínio do Rio de Janeiro que só tinha uma edícula. Nossa piscina era uma caixa d’água. A gente foi tão feliz ali!”


“Quando eu conheci o Rodrigo, eu reconheci minha infância, resgatei aqueles valores, sentar-se à mesa com a família no jantar, respeitar os mais velhos, desejar muitos filhos, coisas assim...”





















































FOCO E FORÇA

 “A nossa mente tá sempre tentando nos trapacear. Então, se tu consegues controlar a tua mente, tu consegues ganhar o mundo. Eu não teria nem tido essa conversa com você se eu não tivesse tido a experiência da ioga, que fez muito sentido pra mim. Eu me encontrei, me conheci, e eu queria muito que as pessoas das comunidades de periferia tivessem essa oportunidade também.”

“Atualmente, mantenho um professor que dá aulas a 15 alunos na Cidade de Deus, no Rio. E, no Cais do Porto, colaboro com a Escola Spectaculu, do artista visual Gringo Cardia, que promove cursos de formação técnica para jovens em situação de vulnerabilidade”.


AMOR & SEXO

 “Nós bebemos do machismo na mamadeira. A gente vive dessa opressão a vida inteira. A gente riu do oprimido a vida inteira. Por isso que eu digo que Amor & Sexo me fez muito bem. Eu aprendo todos os dias a lidar com as novas situações que se apresentam ali.”

 “Não estamos falando só de mulheres, estamos falando de LGBTTs, de crianças, estamos vivendo um momento que até parece um exagero porque são muitas frentes. Até a gente se organizar, vai precisar de um tempo. Mas até lá a gente tem que pegar tudo e fazer vrum, botar tudo no chão. Ah, mas não pode fiu-fiu? Não. Neste momento não pode fiu-fiu. Não pode nada. Até a gente entender quais serão as novas normas, porque essas normas antigas a gente não quer mais. Porque o fiu-fiu leva ao feminicídio. Não é que a gente não quer ser chamada de gostosa, mas agora vamos entender onde é que vai dar isso. Então vamos botar tudo por terra e começar tudo de novo.”

 “A gente poder falar ao microfone é um negócio muito poderoso, a gente tem uma responsabilidade enorme, não cabe mais fazer da minha vida a bonitinha do Instagram, foto de biquíni, selfie, não. Agora eu tenho que dar conta disso aqui.”












































CHEGAR AOS 40

 “Eu escolhi isso, eu quero, eu busco. Tudo que eu quero é ser uma pessoa interessante quando eu estiver mais velha. Sempre procuro nas pessoas mais velhas onde está a luz. Está sempre nos olhos. Tem gente que envelhece e a luz nos olhos se apaga. E tem aquelas com vibração, com desejo no olhar. E eu penso: ‘É assim que eu quero ser!’.”

 “A pele já me incomoda. Não tenho mais a pele de guria. Ainda vou à praia de biquíni, ainda mantenho barriga tanquinho, mas a pele é de uma mulher que é mãe de dois filhos e que teve um barrigão, e isso não é a coisa mais agradável do mundo”.


ASSÉDIO, NÃO

 “Eu sofri com as pessoas dizendo: ‘Do que essa mulher linda, loira, magra, tá reclamando?’. Doeu. As mulheres que diziam isso estavam repetindo estereótipos, elas não estavam entendendo; eu tinha que dar a mão para elas. Espero que nenhuma delas sofra com violência, porque uma mulher que diz isso nunca sofreu uma violência, nunca foi estuprada, assediada, violentada; então eu dou minha mão pra elas. Pra elas entenderem.”

 “Sabe o que mais me incomodou nesse desentendimento com Sílvio Santos (que a chamou publicamente de “magrela sem graça”)? Parecer que eu estava de frescura porque ele me chamou de magrela. A questão não é essa. Eu não sou nada. Quantas mulheres morrem de bulimia, anorexia, dismorfia porque se olham no espelho e se veem gordas. Quantas mulheres ele oprimiu chamando de gordas. Quantas mulheres sofrem com a gordofobia… Não é justo comigo as pessoas acharem que eu tô chateadinha porque fui chamada de magra. Não é comigo, é com todas as pessoas, e não é o Silvio Santos, são todos. Você acha que os homens gostaram do que eu falei pro Silvio? Não! Porque no fundo eu falei pra todos eles.”

 “Sim, quando você se posiciona dessa maneira, está representando muitas pessoas.” Fernanda pensa um instante, olha para baixo e me conta um caso. Diz que foi a um evento em que uma jovem negra se aproximou e falou que também havia escrito o que pensava sobre Silvio Santos em seu blog. O texto foi lido por cerca de 60 pessoas. E, quando ela leu o que Fernanda escreveu, atingindo boa parte do Brasil, se sentiu representada. “Nós não somos a mesma pessoa. Ela sabe quem eu sou e eu sei quem ela é, mas, quando ela diz que eu a representei nesse episódio, eu penso: ‘Puxa, valeu’. Hoje me sinto bem mais preparada pra debater esses assuntos porque sei da importância de dividir esse protagonismo com um monte de mulheres que estão aí e são maravilhosas, mas não têm espaço.”

“Sou uma Canceriana típica, sofro muito. Eu me tornei um ser político. E aí, quando tu me perguntas: ‘Tu és feminista?’. Hoje, com toda certeza, eu te digo que sim. Se eu pensar no meu passado, minha trajetória toda foi feminista. Eu nunca deixei que um homem me mandasse calar a boca, nunca me deixei ser violentada a ponto de não me defender, nunca desisti de nada por ter alguém competindo comigo. Então eu tenho direito de estar aqui e de gostar de quem eu sou.”








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