EGOÍSMO,
SUOR E SUPERAÇÃO
“Pouca
gente vê, mas por trás do lado glamouroso do meu ofício existe uma longa
história de trabalho, obstinação, disciplina e estudo, como minha mãe ensinou.
Claro, há uma pitada de sorte também. E, cá entre nós, uma dose de egoísmo –
bem pequena –, para saber a hora certa de colocar o foco em mim. Porém, nenhum
ingrediente se mostrou mais importante do que a minha paciência.”
“Se
precisasse arear uma panela ou lavar um banheiro, 100% de mim eram dedicados
àquela missão. Eu pensava: ‘Nunca se sabe’. A pessoa que iria se servir daquilo
podia se encantar com o meu trabalho e me levar para um emprego melhor. Idem
quando fui jogadora de vôlei, miss e vendedora de loja de cosméticos. Não sou
competitiva nem tenho sede de ser melhor do que o concorrente. Quero apenas
superar a mim mesma.”
“Encontrei
um ambiente hostil. Grandes nomes da televisão se recusavam a contracenar
comigo. Teve ator que preferiu interpretar olhando para a parede”
FAMA
“Não
tenho ilusão a respeito da fama. O sucesso é um passarinho que faz uma visita e
pode bater asas a qualquer momento. Ao mesmo tempo, é um hóspede exigente,
porque demanda cada vez mais atenção, tempo e dedicação. É estressante, mas
delicioso.”
CONTRA
A MARÉ DOS ADVERSÁRIOS
“No
início da carreira, encontrei um ambiente hostil. Por ser uma ex-BBB, alguns
grandes nomes da televisão se recusavam a contracenar comigo. Teve ator que
preferiu interpretar falas olhando para a parede. Uma vez, o diretor precisou
que eu gravasse sozinha no estúdio. Era cena de choro e eu desabei em lágrimas.
A câmera estava fechada em mim. O resultado ficou ótimo!”
“Também
armavam situações. Uma maquiagem sumiu do camarim e apareceu como mágica na
minha bolsa. Deixaram umas coisas de feitiçaria no meu carro. Não teve estímulo
melhor; em vez de desistir, fiquei tentada a fazer a carreira dar certo.”
“Confesso:
demorei a encontrar motivação. Nos primeiros tempos, não tinha prazer no que
vivia, estava ali para sustentar a família. O amadurecimento só aconteceu em
Verdades Secretas (novela de 2015 em que fazia a modelo drogada, Larissa, papel
que lhe rendeu indicação ao prêmio de Melhor Atriz no Emmy Internacional).
Foram nove anos até gostar de ser atriz.”
BOLSA
DE VALORES
“Quando
trabalhava como manicure e ganhava um salário mínimo, meu sonho era ter uma
moto pequena. Guardava 100 reais todo mês, religiosamente. Saí do BBB com 50
mil reais na mão. Minha mãe me recebeu eufórica, já dizendo como dividir e
gastar o dinheiro. Falei: ‘Nada disso! Vai tudo para uma poupança’.”
“Hoje,
meu orçamento é outro, mas a disciplina é a mesma. Posso contar que já curti
momentos consumistas. Sonhava com perfumes e agora tenho uma bancada cheia,
apesar de quase não usar.”
“A
infância dura, eu brincava de telefone usando uma torneira velha. Desenhava os
números com canetinha nela, e discava. Cheguei a ter cinco aparelhos de celular
ao mesmo tempo, mas passou. Ao completar 30 anos, me permiti comprar um
brilhante.”
“No
entanto, adquiro roupas de maneira consciente e, a cada ano, repasso para a
família 95% delas. Os outros 5%, revendo discretamente em sites de e-commerce,
sem dizer que sou eu. Deve ter gente circulando por aí com bolsa que foi minha
sem nem imaginar.”
“Paixão me assusta, porque perco o controle,
coisa de que não gosto. Eu me relaciono com Patrick há um ano, e tem sido
intenso. Meço muito as palavras quando me perguntam sobre ele. Pela primeira
vez estou com uma pessoa que não é pública. A gente passeia no fim de semana na
Serra Fluminense, pedala… Se tiver sexo todo dia, ótimo. Não é regra nem
obrigação, mas, quando tenho desejo pela pessoa, rola até muito cansada.”
“Eu
sinto vontade de casar de novo, mas sem muito alarde. Talvez faça isso longe de
todos. Não sou de festa, nem mesmo no meu aniversário.”
PARA
SE LIVRAR DAS GRAZIS FALSAS
“Demorei
a criar perfil em rede social, e só entrei no Instagram porque era necessário
para alguns trabalhos. Pago mensalmente um advogado para tirar do ar os
inúmeros perfis falsos que criam em meu nome. Alguém se passar por você é uma
coisa doentia.”
“Algo
ainda mais grave é a imprensa publicar frases desses perfis. Uma vez, pedi para
a minha assessoria alertar jornalistas sobre o erro. Responderam que apagar a
notícia seria ruim para o veículo, pois traria problemas com sites de busca.
Então, pergunto: é melhor deixar uma mentira no ar e enganar as pessoas?”
MEDO
DO TEMPO E DA SOLIDÃO
“O
que me assusta sobre envelhecer é a possibilidade de ficar mais ativa
intelectualmente do que fisicamente. O ideal é o equilíbrio. Tenho medo, mais
do que qualquer coisa, da solidão. Por isso, dou todo o amor que posso à minha
família. É uma semente que estou plantando.”
“Não
vou ser hipócrita, dizer que amaria ficar cheia de rugas. Elas são inevitáveis.
Então você se conforma – o que julgo mais digno – ou começa a se mutilar. Não
sou contra procedimentos estéticos, mas há celebridades que se tornam versões
deformadas do que foram um dia.”
CHEGA
DE MOCINHA
“O
Brasil não sabe lidar bem com idosos. Meu segmento de trabalho, felizmente,
está começando a mudar, a criar mais papéis para mulheres com mais de 50 anos,
como a Elizângela, em A Força do Querer (aos 62 anos, a atriz interpreta
Aurora, mãe angustiada com as escolhas da filha na novela das 9). Há 20 anos,
salvo exceções, a gente tinha que ser só a mocinha boba.”
“Minha
mãe via a beleza em mim e colocava nos meus ombros a esperança de mudar de vida
fazendo uso da estética. Cresci com esse peso. Já Sofia poderá escolher o que
quer fazer da vida”
O
MUNDO DE SOFIA
“A
responsabilidade de dar conta de um pequeno ser humano é apavorante. Na minha
infância, o pavor era faltar comida em casa. Hoje, me preocupo em como educar.
A tecnologia complica bastante, porque estamos cada vez mais distantes uns dos
outros. Minha geração viveu o contato físico em tudo: na primeira paquera, no
primeiro constrangimento, ao chegar junto, levar um fora… Enfim, todas as
emoções eram cara a cara. Hoje, as crianças não contam com isso. Podem virar
adultos frágeis. Tento manter o pé de Sofia na vida real.”
MÃE
DE MISS? JAMAIS
“Espero
nunca ser ‘mãe de miss’ com Sofia. Por mais piegas que seja dizer isso – e
sempre me emociono quando penso a respeito –, o que desejo é que ela seja uma
mulher forte. E feliz, claro. Quando tenho ensaio fotográfico, nas poucas vezes
em que vai comigo, ela quer imitar e posar também.”
“Minha
mãe via a beleza em mim e colocava nos meus ombros a esperança de mudar de vida
fazendo uso da estética. A família tinha poucas condições e cresci com esse
peso. Não vou fazer isso com a minha filha. Sofia terá a chance de escolher o
que fazer da vida.”
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CULPA
“Toda
mãe que trabalha fora de casa sente culpa quando precisa ficar meia hora longe
dos filhos. Decidi que Sofia é a minha prioridade. Mas aprendi a lição da
maneira mais difícil: no primeiro ano de vida dela, eu trabalhei muitíssimo.
Exagerei. Pode colocar assim na reportagem.”
“Havia
me programado para dar conta do que quer que houvesse, de todos os compromissos
profissionais. Embora tenha organizado absolutamente tudo, definido e analisado
cada coisa, o trabalho acabou ficando mais complicado que o previsto. Entrei em
desespero. Nunca mais marquei milhões de atividades.”
“Hoje,
meus fins de semana são dela e, nas raras ocasiões em que preciso me ausentar,
mostro no calendário os dias em que ficarei longe e quando vamos nos
reencontrar. Nas datas que ela estará com o pai, concentro a agenda de
gravações e compromissos.”
“Outra
coisa que faz diferença: transmitir a noção da necessidade do trabalho, como
minha mãe fez comigo. Tenho orgulho da batalha; uma admiração enorme. Ela me
mostrou o quão importante é ir para o batente, e que aquelas horas longe
garantiriam a comida na mesa.”
“Sinto
vontade de ter mais filhos. Não sei ainda quantos. Seria legal se viesse um
menino na próxima, para formar par com Sofia. Se chegar outra menininha, a
alegria continuará a mesma, com certeza.”
FEMINISMO
“Vão
me olhar torto por falar isto: por mais difícil que seja a vida de mulher,
considero nada fácil ser homem. Ele aguenta uma pressão absurda para não
demonstrar as emoções. Sou a favor de evoluirmos juntos. Essa deve ser a força
motriz de qualquer discussão sobre igualdade de gêneros.”
“Uma
conversa que, sim, precisamos ter urgentemente é sobre salários iguais e
condições justas de trabalho. O movimento feminista é estimulante, interessante
e produtivo. Mas, às vezes, há excesso, sobretudo de ativistas de redes
sociais. Algumas, até anônimas, destroem quem é contrário às suas crenças.”
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ESTUPRO
“Reconheço
que lidamos todos os dias com o perigo físico. Ele é real quando uma mulher
caminha na rua ou se vê forçada a pensar duas vezes na roupa que vai vestir.
Cresci com um medo gigantesco de estupro.”
“Aos
14 anos, senti na pele a ameaça. Íamos visitar minha tia e, como não quis
esperar minha mãe, segui sozinha. Um homem começou a me acompanhar. Apertava o
passo, ele se apressava também. Acelerei até a hora em que o andar virou
corrida; o cara fez o mesmo. Minha sorte foi que logo cheguei ao meu destino,
ou hoje integraria a estatística deplorável das vítimas de abuso sexual.”
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