Tuesday, June 12, 2018

TESOURO NACIONAL: FLÁVIA ALESSANDRA




Para Flávia Alessandra, desenvolver um bom trabalho em televisão requer imersão. “Quando eu vou construir uma personagem, eu gosto de mergulhar e conseguir absorver tudo que eu acho que pode me acrescentar.” É como viver em um mundo paralelo, permeado por novas experiências. Por isso que a atriz carioca, revelada em um concurso de novos talentos no Domingão do Faustão, sempre que pode dispensa dublês em seus trabalhos.

Em Porto dos Milagres (2001), encarou o desafio de fazer toda a sequência da cena do afogamento da protagonista Lívia, gravada em uma piscina de ondas, em águas geladas; em Alma Gêmea (2005), experimentou as altas temperaturas ao colocar fogo no ateliê da arqui-inimiga de sua vilã, Cristina.

O mesmo valeu para o furacão chamado Alzira, uma dançarina de pole dance que fez sucesso na novela Duas Caras (2007). Nesse trabalho, a atriz quis aprender as posturas da dança e, para isso, instalou um poste com as medidas oficiais em sua própria casa. “Eu sonho em ser uma atriz versátil. Não quero fazer só drama ou comédia, quero poder transitar por esses dois universos e por tantos outros. Quero poder brincar e fazer de tudo um pouco.”

Filha de uma professora de geografia e de um comandante de navio, Flávia Alessandra nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de junho de 1974. Caçula de três irmãos, ela teve uma educação rigorosa em escolas militares, mas acabou sendo convidada a se retirar do colégio quando decidiu ser atriz, aos 15 anos. Idade de sua entrada na TV Globo, quando venceu o concurso no Domingão do Faustão para fazer parte do elenco de Top Model , em 1989, numa final disputada com Adriana Esteves e Gabriela Duarte.

“Era uma escola bem rígida, eu já estava fazendo teatro e a minha primeira novela. O colégio achava um absurdo a minha mãe deixar eu trabalhar e começou a criar empecilhos. Eu fazia algumas pequenas transgressões, como usar calça rasgada, crucifixo e até pular o muro para conseguir sair do colégio”, relembra a atriz, que começou a estudar teatro aos 7 anos, fez as primeiras oficinas da Globo para crianças e adolescente e, até interpretar a Taninha em Top Model, trabalhou como figurante e fez apoio de elenco.

 Sua segunda novela foi Mico Preto (1990), considerada um fracasso, mas  importante para o amadurecimento da atriz. “A partir desse momento, tive consciência que mais do que nunca a vida era feita de opções. Foi um tiro no escuro, a novela não deu certo e eu perdi a oportunidade de fazer outros dois grandes trabalhos que acabaram acontecendo na casa na mesma época, Os Homens Querem Paz e Riacho Doce”.

Depois de quatro anos, Flávia Alessandra fez Sonho Meu e, em 1995, História de Amor, onde interpretava Soninha Toledo. “Foi a minha primeira personagem que teve visibilidade. Era uma adolescente bem espevitada, que trouxe muita coisa boa para mim. Pela primeira vez, estive em todo o desenrola de uma trama. No início, a mudança no meio da novela e um fim. Fiquei orgulhosa. Acabou a novela e o Maneco (Manoel Carlos) mandou um fax para mim bem carinhoso, que eu tenho guardado até hoje”, comenta.

Na época das gravações da novela de Manoel Carlos, a atriz cursava duas faculdades: Jornalismo e Direito. “A vida inteira eu fui educada com meus pais falando que a mulher tem que ter a sua independência e uma carreira estável. Ainda não tinha essa estabilidade na profissão de atriz. Então, o meu plano era ter uma profissão que iria me sustentar e continuar alimentando a minha alma sendo atriz, fazendo teatro fim de semana ou uma novela aqui outra acolá”, conta Flávia Alessandra, que durante três anos fez os dois cursos até optar pelo Direito.

Mas foi em A Indomada (1997) que ela obteve reconhecimento. “Foi um divisor de águas na minha carreira. Estava acabando a faculdade de Direito, quando recebi o convite para a novela. Interpretava a Dorothy, que era irmã da Luiza Tomé, um furacão, e a minha personagem era um patinho feio, mais retraída, envergonhada, tímida. A personagem chegou a ter uma cena de tentativa de suicídio, que a gente gravou lá em Arraial do Cabo, uma cena linda, porque tamanho era o desgosto dela pela vida”.



Quando estava acabando a novela, Flávia Alessandra se formou na faculdade de Direito e fez a prova da Ordem dos Advogados de Brasil (OAB). “Quando peguei a minha carteirinha para abrir o escritório ligado ao Direito Autoral, para estar próxima de alguma forma a minha área, fui chamada para o meu primeiro contrato longo na TV”.





























Em 1998, interpretou sua primeira Lívia na novela Meu Bem Querer, que marcou tendências de moda com um figurino elegante e moderno.  “Foi uma personagem onde, pela primeira vez, vi o poder da influência da moda da novela em cima das pessoas. Tinha cortado o cabelo Chanel e aí veio a moda do cabelo Chanel, das cores que eu usava, da saia lápis que eu vestia”, pontua.

“A Lívia morreu no parto e a cena foi linda, mas lembro também que eu não soube separar tanto, tinha técnica zero para morrer. Então, chorei muito em cena. Porque era uma despedida dupla. Era eu morrendo, era a personagem indo, a novela acabando. Vivi todos os lutos de uma só vez”.

A segunda Lívia foi sua primeira protagonista no horário das 20h, em Porto dos Milagres, em 2001. “Foi uma experiência maravilhosa. Eu, Marquinho Palmeiras, Camila Pitanga, Louise Cardoso. A gente vai fazendo grandes amigos. Pessoas queridas que a gente vai levando depois ao longo das novelas”. Dessa trama, a atriz gosta de destacar a última cena, quando sua personagem é raptada pelo vilão Alexandre (Leonardo Brício), que tenta matá-la em alto mar. Flávia Alessandra lembra que ela não quis dublê para as cenas de afogamento e enfrentou o desafio com seus companheiros de cena.

A terceira Lívia foi em O Beijo do Vampiro, onde também interpretou outro papel, o de Cecília. “É uma novela que volta e meia a Giulia (filha da atriz e do ex-diretor Marcos Paulo) pega os capítulos para assistir porque eu tenho todas as novelas em DVD. Eu já tinha sido mãe, o que é fundamental eu acho porque a gente passa a entender, passa a encarar, é inevitável a experiência que a gente tem e a gente transfere e transporta para a personagem”, relembra Flávia Alessandra, que em 2013, está interpretando a mãe de uma adolescente em Além do Horizonte, e que na vida real é mãe de Giulia, de 13 anos, e Olívia, de 3.

Alma Gêmea (2005) foi um outro divisor de águas na carreira da atriz. “Estava há uns três anos longe da TV e tinha chegado um momento da minha vida, da minha carreira, que pensei ‘tenho que arriscar porque as pessoas precisam me ver de novo de forma diferente para entenderem o meu trabalho’. Falei com o Jorginho (Fernando) que queria fazer uma vilã. A novela foi um sucesso absoluto, a gente batia em pontos com a novela das oito. As pessoas só falavam de Cristina. Lembro que no carnaval, em bloco de rua, tinha um bando de Cristina vestida.”

Uma das cenas mais marcantes para a atriz foi a última, quando Cristina coloca fogo no ateliê da falecida prima Luna. Mais uma vez, Flávia Alessandra dispensou dublê e assumiu a emoção, em meio ao fogo: "Claro que eu quis fazer! A gente usa uma roupa especial, mas mesmo assim estava muito quente. Enquanto a Cristina botava fogo, ela ria de prazer. Mas quem disse que eu conseguia rir? Era tanto calor que eu só gritava. Na segunda vez, eu já ria: acho que me deu uma mistura de nervoso com o que tinha que ter na cena, que, quando acabou, eu ri, continuei rindo. Foi inesquecível."

  Em 2006, os planos de Flávia Alessandra estavam mais voltados para o lado pessoal. De casamento marcado com Otaviano Costa, ela recebeu um convite inesperado para interpretar a Vanessa em Pé na Jaca. “Fui chamada numa situação um tanto conturbada. Sexta e sábado pela manhã conheci a personagem, me casei sábado, domingo estava eu lá na minha sessão psicopata, começando a construir o universo da Vanessa, o que seria ela. E segunda já estava indo gravar. A novela não foi um sucesso, mas a personagem foi e me empolgou muito, porque era um papel de comédia, depois de uma vilã”.

Em 2007 a atriz interpretou um de seus maiores sucessos na TV, a Alzira, de Duas Caras. Uma personagem que era uma enfermeira, mas também dançava escondida do marido numa casa noturna. “Eu chamava a Alzira de Alzirão porque para mim ela era um mulherão. Ela era uma personagem pequena de acordo com a sinopse”.



A novela foi escrita por Aguinaldo Silva e teve direção de Wolf Maia, que sugeriu para atriz ter uma dublê para as cenas de pole dance, mas ela, claro, recusou. “Fiz dança a vida inteira, balé clássico, contemporâneo e sapateado. Disse que queria fazer e aí a gente contratou uma stripper realmente. Cheguei a frequentar alguns lugares lá em São Paulo, só de dança do poste, a ensaiar em palcos dessas casas até que fomos montar a Alzira para dançar em uma casa noturna que ficava no meio de uma favela”, relembra a atriz, que também opinou sobre o figurino, sugerindo que ela dançasse de fio dental.
















































Em 2009 e 2011, Flávia Alessandra fez uma dobradinha em novelas do Walcyr Carrasco: Caras e Bocas e Morde & Assopra. Na primeira, a atriz fazia “uma mocinha muito atrevida, por isso fui fazer com unhas e dentes porque era uma mocinha que não levava desaforo para casa”, comenta. Já a segunda, interpretou o duplo papel da humana e da robô Naomi.

“O Walcyr tinha me chamado para próxima novela dele e teria um intervalo ainda. De repente ele me ligou falando que a próxima das sete ia ser dele e eu falei ‘Como assim? Estou grávida, não vou conseguir fazer!’ Ele mandou a sinopse, li e pedi para fazer a Naomi robô porque não sabia quando ia ter chance de fazer uma robô de novo."

Entre minisséries e especiais, Flávia Alessandra fez Aquarela do Brasil, (2000) Você Decide (2000), Linha Direta (2004), Mulher (1998), Carga Pesada (2004), A Diarista  (2004), entre outros. “Foi um trabalho diferente, de desconstrução. Ela era uma dona de casa bem espalhafatosa, bem exagerada, bregona, cabelo encaracoladão e era comédia. Foi depois de A Diarista, que fui chamada para fazer a Vanessa de Pé na Jaca”, observa a atriz.

Em 2012, interpretou Érica, namorada de Theo (Rodrigo Lombardi) em Salve Jorge, novela de Gloria Perez. Em 2016, teve a oportunidade de dar vida a outra vilã em novela de Walcyr Carrasco, na novela de época Êta Mundo Bom. Na faixa das 18h, a ambiciosa Sandra tenta seduzir o caipira Candinho, herdeiro de uma grande fortuna.

No cinema, fez filmes como O Homem que Desafiou o Diabo (2007) e Não se Preocupe, Nada Vai Dar Certo (2011). “Tive a experiência de fazer cinema e isso teve pouco peso na minha carreira, mas para minha profissão teve muito. Fiz uma participação em Boca de Ouro com o (Walter) Avancini dirigindo. Tinha de 11 para 12 anos, e já tinha feito uma batelada de testes. Os minutos que tive com o Avancini me prepararam para vida”, relembra Flávia Alessandra que sonha em ser uma atriz versátil. “Quero poder brincar e fazer de tudo um pouco”.

(Depoimento concedido ao Memória Globo por Flávia Alessandra em 13/03/2012.)




























































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