Isabelle
Huppert tem cinco filmes com estreia marcada para 2019. A atriz francesa é tão
ocupada que, enquanto interpretava uma versão exagerada dela mesma em um
episódio da comédia da Netflix Call my Agent, no ano passado, ela trabalhava em
dois filmes importantes ao mesmo tempo (e revendo o roteiro de um deles) e ao
mesmo tempo arranjava tempo para um filme coreano ao lado e se preparava para
encenar Hamlet no palco.
“Adoro
o que faço”, disse ela em uma entrevista, quando lhe perguntaram porque tem um
cronograma tão apertado. “É um grande privilégio na vida amar aquilo que a
gente faz”.
A
atriz, cujo perfil americano teve um grande impulso ao ser indicada para o
Oscar por seu trabalho no filme Elle, de 2016, está fazendo uma pequena pausa
do cinema para estrelar The Mother (A Mãe), peça de Florian Zeller, cujas
apresentações começam dia 20 de fevereiro na Atlantic Theater Company. Durante
esse período um novo filme seu será lançado, o thriller psicológico Greta, de
Neil Jordan, que estreará nos cinemas em primeiro de março.
O
produtor de teatro americano Jeffrey Richards apresentou a ela o projeto de
Zeller cuja peça The Father (O Pai) foi encenada na Broadway em 2016, e ela
imediatamente aceitou.
Entre
a realidade e a fantasia. “Achei a peça excelente. É baseada em um tema que é
ao mesmo tempo específico e universal, a história de uma mulher depressiva que
passa por um período difícil no trato com seu marido e a ausência dos filhos.
Às vezes ela me lembra a Blanche de Um Bonde chamado Desejo, porque ela vive
entre a realidade e a fantasia e o sonho”, disse a atriz.
Anne,
a mãe, é uma figura opaca e esquiva. Ela é louca? Exagera nos remédios? A
personagem, e a peça, não oferecem resposta. Mas Isabelle, que tem um talento
mágico para interpretar mulheres à beira da insanidade, deve tornar o mistério
emocionante.
Difícil
acreditar que, com mais de 120 filmes no currículo, ela tenha muito tempo
livre, mas desde o início dos anos 1970 Isabelle, hoje com 65 anos, também tem
uma carreira no palco bem sucedida. Apareceu em peças clássicas de Shakespeare
e Ibsen, como também em outras bastante experimentais, revisitou obras
clássicas como A Streetcar, de Krzysztif Warlikowski, baseada en Tennessee
Wiliams. E também trabalhou em sucessos contemporâneos, tendo participado do
elenco parisiense original da peça de Yasmina Reza vencedora de um Tony, Deus
da Carnificina – além de interpretar papéis difíceis como o de Sarah Kane em
4:48 Psychosis, em que permanece quase imóvel durante 105 minutos.
Isabelle
Huppert adora um desafio. Ao trabalhar com o severo diretor Robert Wilson em
peças como Orlando e Quarteto, ela observou que “quanto mais imposição, mais
você encontra seu espaço e sua liberdade. Eu preciso de pressão e a aceito com
muito prazer”.
Peça
escrita em francês. A Mãe, que é dirigida por Trip Cullman e tem no elenco
Chris North no papel do marido, é a terceira peça em inglês para Isabelle,
depois de Maria Stuart de Schiller, em Londres em 1996, e The Maids no Lincoln
Center Festival em 2014.
“Quando
você não domina bem uma língua, e o inglês não é minha língua materna,
obviamente fica mais difícil”, disse ela. A ironia é que, como The Maids, A Mãe
foi originalmente escrita em francês. Isabelle não leu o original e nem viu a
estreia da peça em Paris em 2012. Ela mergulhou diretamente na tradução inglesa
de Christopher Hampton.
“Há
um fraseado, um ritmo nesta língua que você tem de respeitar. Tento ficar
vigilante a isto. Existem pausas, batidas, é como música e é muito importante
respeitar isto de uma maneira bem precisa”.
Ao
mesmo tempo, ela sabe que é importante ter flexibilidade quando trabalha em um
projeto. “A primeira vez que nos encontramos”, disse Cullman, “fiz a ela muitas
perguntas sobre seu processo de trabalho, como ela gosta de explorar seu
personagem. Ela simplesmente respondeu ‘sou livre’. Faço uma sugestão, ou ela
tem uma ideia e é uma experiência intensa: ‘ok, vou derrubar o vidro de
comprimidos no chão e vou rastejar em volta e ingerir 30 pílulas em 30 segundos
e vou me retorcer como um gato’”, disse ele.
“Você
sente que ela tem uma capacidade imediata se se libertar das limitações de um
retrato naturalista e psicológico para evocar lógica do sonho na sua atuação”.
(TRADUÇÃO
DE TEREZINHA MARTINO PARA O ESTADO DE S. PAULO)
No comments:
Post a Comment