O
insight veio em 2005. Emma estava com um grupo de amigos em Ibiza, a badalada
ilha espanhola, para uma festa de casamento que aconteceria dali a alguns dias.
Conversavam animadamente, uma bebida aqui, outra ali e, quando se deram conta,
estavam todos nus, caoticamente engatados em uma relação sexual em grupo. Ali,
vendo suas amigas liberarem sem pudor desejos e prazeres até então ocultos, a
relações públicas conseguiu enxergar algo além do sexo. Naquele mesmo ano
nascia a Killing Kittens, uma das mais famosas orgias para VIPS de Londres e
cuja única vestimenta obrigatória é a máscara – o que não impede, contudo, que
Emma identifique alguns clientes mais notórios. “Já vi muita gente pelada”, diz
a empresária à Status, com seu sotaque carregado e abrindo um sorriso quase
enigmático. Atletas, atores, cantores, políticos e jornalistas, garante, estão
na lista dos que já se despiram e se divertiram nas orgias de luxo organizadas
por ela.
Um
nome, porém, se destaca em seu círculo de amizades: Kate Middleton. Não, a
mulher do príncipe William e mãe do futuro rei da Inglaterra não deu o ar da
graça em uma das luxuosas surubas da Killing Kittens (pelo menos não que se
tenha conhecimento, já que todos ali estão mascarados…), mas o fato de as duas
terem sido amigas, com imagens capturadas por papparazis na época, foi o
suficiente para dar ainda mais notoriedade a Emma e sua empreitada sexual. Ela
tenta minimizar sua relação com a realeza, mas em vão. “É hilário, já faz quase
dez anos.
Eu
sempre digo que hoje não sou amiga dela, mas que apenas a conheço. Não importa
quantas vezes eu diga isso, alguns jornais continuam dizendo que sou amiga”,
afirma, emendando que não se sente incomodada. E até faz graça. “Temos vidas
diferentes agora, embora o Palácio de Kensington (residência oficial de Kate e
sua família) desse um ótimo lugar para minhas festas”, diz.
As
duas já haviam estudado juntas, ainda pequenas, mas bem rapidamente. Foram se
reencontrar em 2007, quando Kate decidiu entrar para a Sisterhood, uma
irmandade formada por patricinhas de Londres criada pela própria Emma. O grupo,
que existe até hoje, reúne jovens e belas mulheres dispostas a participar de
disputas de remo no Canal da Mancha para angariar fundos (e divertirem-se um
pouco, claro). Kate surgiu na Sisterhood na tentativa de curar uma dor de
cotovelo. Magoada com o fim do namoro com William, ela aceitou a sugestão de
uma amiga e decidiu ingressar no grupo. Caridade, esporte e festas – o pacote
parecia interessante para esquecer o grande amor. A amizade entre Kate e Emma,
porém, mal teve tempo de amadurecer: Kate e William reataram o relacionamento
três meses depois e, graças à pressão da realeza britânica, que temia a
exposição, a futura duquesa de Cambridge acabou deixando a irmandade. “Ainda
temos amigos em comum, mas não temos contato”, diz. Assim como Kate, que teve
dois filhos – George e Charlotte –, Emma também é mãe. Aos 37 anos, ela tem um
menino de um ano de idade e planeja se casar com o pai do bebê no fim do ano.
Emma
recebeu a reportagem de Status para uma conversa num bar na capital inglesa a
poucos metros da London Eye. Cabelos loiros e olhos claros emolduram seu rosto,
levemente marcado por rugas precoces. Formada em ciência do esporte pela
Universidade de Birmingham, Emma trabalhou como relações públicas, mas sempre
quis tocar seu próprio negócio. O faro para o potencial das orgias de luxo foi
certeiro. Prestes a completar dez anos, a Killing Kittens tornou-se referência
em orgias para gente rica, com ingressos que variam de R$ 150 a R$ 500. Mas é
no fórum virtual mantido pela marca que Emma faz dinheiro. A Killing Kittens
conta hoje com uma rede de 45 mil clientes em todo o mundo. São hedonistas
lindos e sensuais, cuidadosamente selecionados por foto para integrar um fórum
que permite trocar mensagens e acessar o perfil completo dos convidados. É
possível participar sem pagar, mas, para ter acesso ao filet mignon do site —
como acesso ao perfil completo dos usuários — é preciso pagar uma mensalidade
que varia de R$ 50 a R$ 500 (a taxa mais alta dá direito a uma festa por mês).
No site, uma mensagem convida o internauta para se juntar “à elite sexual
mundial”. A dona do clube garante que não escolhe apenas supermodelos, mas
preza pelo visual. Pessoas acima do peso têm chance de ser selecionada? “Só se
forem sexy”, diz a organizadora da Killing Kittens. O nome, que em uma tradução
livre significa “matando gatinhos”, remete a um ditado popular na Inglaterra
segundo o qual, cada vez que alguém se masturba, um filhote de gato morre.
No
início, recorda-se Emma, era difícil encontrar espaço para suas festas. Ciosa
em manter a reputação de uma orgia sofisticada, a empresária encontrava
dificuldade em convencer os donos dos imóveis sobre a integridade de seu
negócio. O problema ficou para trás. Graças à fama da festa e a seus
seletíssimos clientes, a Killing Kittens costuma encontrar portas abertas em
hotéis, mansões e outras locações estilosas – como o Portland Place, casarão
antigo onde foi filmado O Discurso do Rei (vencedor do Oscar em 2001). Além de
lugares bacanas, Emma e sua equipe providenciam outros mimos aos convidados,
que normalmente usam traje de gala. Às vezes, há shows burlescos ou de mulheres
que brincam com fogo enquanto se despem; em outras versões, os convidados
participam de festas à fantasia ou tentam reproduzir, ao melhor estilo vintage,
o glamour de O Grande Gatsby, romance escrito pelo norte-americano F. Scott
Fitzgerald nos anos 1920. Normalmente, as festas contam com dois ambientes: um
salão, onde a festa se parece com uma balada inofensiva (apesar de todos
estarem mascarados), com DJ, champanhe e ostras à vontade. Essa primeira fase
da festa é essencial para as mulheres, pois é ali que elas fazem um
“reconhecimento” dos convidados (e convidadas). Quando a bebida “sobe” e o
clima esquenta, os convidados seguem para uma outra área, formada por um ou
dois quartos, com camas, cadeiras e sofás. Emma conta que alguns casais se
formam ali na festa e preferem seguir para um outro lugar, mas a maioria se
entrega ali mesmo. Quem não quiser participar pode ficar só olhando.
Ainda
que a orgia seja o carro-chefe da empresa, Emma conta que ela e sua equipe
também atendem demandas “especiais” dos sócios. “Pedidos para simularmos um
sequestro, por exemplo, são comuns”, revela. Em um desses episódios, os
“sequestradores” de um executivo do mercado financeiro precisavam estar
fantasiados de Marilyn Monroe e Batman, levando com eles um plug anal e
presilhas para os mamilos, conforme a descrição de Emma em Behind the Mask, sua
autobiografia, que acaba de ser lançada. O livro conta as aventuras pessoais e amorosas
da própria Emma, com pitadas de suas festas mais extravagantes. Ela garante que
nunca participou das orgias que organiza. “Passo a maior parte do tempo no bar,
gerenciando a festa para nada dar errado”, diz, para logo admitir já ter
exercitado “seu lado voyeur”. Ela sabe que lida com um tema polêmico, cercado
de tabu, mas fala de suas festas com uma naturalidade que impressiona. “As
pessoas são muito conservadoras e antiquadas”. Sobre a fama dos ingleses serem
“travados” quando o assunto é sexo, ela atesta: “eles fazem muitas coisas, só
não admitem”.
Filha
de um coronel do exército, ela teve a chance de viver com a família em outros
países, como Alemanha e Egito, o que, para Emma, ajudou a abrir-lhe a mente,
tornando-a mais liberal, especialmente em relação ao sexo. Depois de formada,
trabalhou por um tempo organizando e promovendo eventos, mas incomodava-se com
a caretice de seu trabalho. Juntando a vontade de ter seu próprio negócio,
estava aí a desculpa ideal para mudança de rumos, transformando sexo em
dinheiro. No ano passado, numa entrevista para jornal inglês The Guardian,
revelou que seu faturamento chegava a 35 mil libras por mês, o equivalente a U$
170 mil. Como toda empresária, Emma vem criando formas de expandir e
diversificar o negócio. Recentemente, passou a organizar versões mais populares
da Killing Kittens. Nessas festas, os ingressos são mais em conta: para
mulheres, a entrada é gratuita, enquanto os casais pagam de R$ 100 a R$ 500
(homens sozinhos são sempre vetados). Ainda assim, todos precisam ter suas
fotos aprovadas. A demanda aumentou tanto que Emma decidiu fazer também festas
exclusivas para pessoas mais maduras ou só para mulheres. A “Silver Kittens”,
por exemplo, aceita pessoas acima de 45 anos que, necessariamente, precisam ser
bonitas e ter energia. Em todas as festas, há fartura de camisinhas, espalhadas
por todos os lugares. O preservativo, porém, não é obrigatório e ninguém
confere se o sexo é seguro. Para organizar os eventos, Emma já conta com seis
funcionários em tempo integral e se prepara para contratar mais gente.
As
festas de Emma, inicialmente organizadas apenas para a aristocracia em Londres,
fizeram tanto sucesso que se espalharam por outras cidades do Reino Unido,
entre elas Manchester, Liverpool e Belfast, chegaram a Nova York, Los Angeles
e, em muito breve, acontecerão em Miami. Mesmo com a expansão, ela diz que não
abre mão de fazer eventos pensando, principalmente, nas mulheres. Repete, com
certa insistência, que suas festas têm uma “pegada feminina”, ao contrário da
maioria dos clubes de swing ou de outras casas onde o sexo é principal negócio.
A ideia é manter o ambiente seguro o suficiente para mulheres explorarem sua
sexualidade com outras mulheres ou com diferentes casais. Isso significa, por
exemplo, que os homens – ou casais – só podem se aproximar se elas autorizarem.
Questionada se é feminista, Emma rebate: “Sou a favor dos direitos de escolha
iguais para homens e para mulheres. Se isso é ser feminista, então eu sou”.
(publicado originalmente na Revista STATUS em Setembro de 2015)
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