Os
anos 80 foram pródigos em divas louras. Kim
Basinger, Kathleen Turner e Melanie Griffith incendiavam as telas em posse de todo um sex appeal avassalador. A
única morena a rivalizar com elas atendia pelo nome de Mary Sean Young.
Seu debut na telona ocorreu aos 21 anos de idade, em “Jane Austen em
Manhattan”(1980), filme que marca a última aparição de Anne Baxter no cinema. Um ano depois,
estrelou ao lado de Bill Murray e Harold Hamis a comédia “Strippes”. Mas o tão almejado
estrelato só veio mesmo com “Blade Runner” (1982).
Bela,
classuda e sensualíssima soltando baforadas de cigarro, sua Rachael, uma
replicante, era o retrato pós-moderno de uma musa “noir”. Nenhuma outra diva personificou tão bem todo o mistério, a ambiguidade e a volúpia doentia e
pálida das antigas stars hollywoodianas.
Até
“Wall Street” (1987), sua carreira vinha numa crescente.
Antes, Young havia dado o ar da graça como vértice de um triângulo amorosos
muito bem acompanhada por Kevin Costner e Gene Hackman no thriller sensual “Sem
Saida”(1987), mas, segundo notas de bastidores, as muitas brigas com Oliver
Stone por conta do principal papel
feminino de “Wall Street”, que ficou com Daryl Hannah, contribuíram por minar lentamente suas chances como estrela de primeira grandeza.
Mas
o início da derrocada aconteceu um ano depois. Escalada para ser par romântico
de James Woods em “The Boost”(1988), ambos prosseguiram com o romance nos
bastidores. Ao término do relacionamento a atriz foi processada por ele. A
alegação: perseguição e assédio sexual. E numa Hollywood machista, na queda de
braço, Young levou a pior, ficando estigmatizada como tresloucada e
temperamental, predicados que não mais a abandonaram desde então.
Se
não bastasse, diante a escassez de bons papéis e por conta de um acidente no
qual quebrou a clavícula, foi substituída de ultima hora por Kim Basinger em
“Batman- O Filme”(1989). Anos mais tarde, achando-se no direito de regressar à franquia do morcegão, lutou arduamente pelo papel de Mulher-Gato. Confeccionou
uma fantasia da icônica vilã das HQs e partiu numa insólita campanha pela
personagem que poderia mudar o rumo de sua trajetória, tudo em vão. Após a
desistência de outra morena, Annete Bening, os produtores e o diretor Tim
Burton sequer cogitaram em chamá-la, e, contrariando o tal “physique du rôle”
da Catwoman dos quadrinhos, optaram por uma loira. Michelle Pfeiffer entrou na
jogada.
Depois
da comédia “Ace Ventura”(1994), Sean Young não fez mais nada de relevante
profissionalmente, e em meados dos anos 90 a sua carreira descarrilhou de vez.
Sem nenhum projeto digno de nota e fadada ao ostracismo, a fama de barraqueira
era seu cartão de visita. Em 2008, em
Los Angeles, durante uma premiação na qual o cineasta Julian Shanabel (“O
Escafandro e a Borboleta“) estava sendo homenageado, ela começou a gritar
atrapalhando o discurso do diretor. Foi retirada da festa e, após o incidente,
resolveu se internar numa clínica de reabilitação para alcoólicos .
Com
a vida artística em baixa, e com um histórico pessoal pontuado de notas de tablóide,
a outrora estrela de “Brade Runner” se juntou ao elenco da quinta temporada do
reality show “Celebrity Rehab with Dr. Drew”, um programa da TV a cabo
norte-americana com foco na vida de celebridades envoltas com problemas com
drogas, inchada e protagonizando momentos de “mundo cão televisivo”. Nem de
longe lembrava a altiva e voluptuosa Rachael, interesse amoroso do caçador de
androides Rick Deckard (Harrison Ford).
Em
outubro do mesmo ano, durante um bate papo bizarro com o entrevistador David
Letermann, no Late Show, Young, numa cartada desesperada e constrangedora de voltar
a ribalta, exibe um vídeo no qual usa uma fantasia caseira de mulher-gato e,
visivelmente fora de forma, aborda aleatoriamente pessoas na rua aos gritos de
“Eu não sou louca”.
Na
tradicional festa pós-Oscar do Baile do Governador em 2012, a atriz voltou a
protagonizar mais um barraco. Acusada de tentar entrar sem convite no disputado
evento e ter agredido um segurança, ela foi detida e liberada após algumas
horas na delegacia. O único saldo positivo ficou por conta das fotos que
conseguiu tirar com celebridades do primeiro escalão, como Sandra Bullock.
Ano
passado, ensaiando seriamente um retorno e com seu nome envolvido em vários
projetos cinematográficos, para o deleite de seus admiradores, ela disponibilizou
na web uma coleção de fotos polaroides, com inúmeras selfies e registros
inéditos dos bastidores de “Blade Runner” ao lado dos atores e da equipe
técnica. (Walter Ferrera)
Em
entrevista ao The Telegraph, Sean Young, conhecida pelo papel de Rachael em
Blade Runner, revelou que foi assediada por Harvey Weinstein no começo dos anos
90:
“Eu
fiz um filme com Harvey Weinstein, Crimes de Amor, que acabou não sendo um
grande filme. Mas eu tive uma experiência pessoal com ele colocando o seu
‘vocês sabem o que’ para fora das calças para me deixar chocada. Basicamente
minha resposta foi ‘Sabe Harvey, realmente não acho que você deveria tirar isso
para fora, não é muito bonito’. E então fui embora e nunca tive uma reunião com
ele novamente”.
A
atriz também comentou como supervisionou a cena com a Rachael em Blade Runner
2049, em que a personagem aparece de forma digital – saiba como aqui.
“Eu
fui paga e fui até lá. Acho honestamente que há uma apólice de seguro na Alcon
Entertainment, porque acho que não me colocar no filme seria meio estranho. Em
minha opinião, não estou nele o suficiente, já que toda a história é sobre a
minha personagem no original. Foi meio estranho, me senti como um dinossauro.
Acabou que meu trabalho foi ficar sentada ao lado do diretor Denis Villeneuve e
ver a cena ser filmada. Depois trabalhei uma hora na frente das câmeras,
fazendo expressões faciais que seriam digitalizadas depois”.
Questionada
sobre o que achou do filme, Young opinou: “É longo. Para ser justa, é uma
conquista em termos da história, do filme e do que ele estava tentando dizer.
Mas é bem sombrio. Eles tentaram encerrar o filme de forma positiva, mas é uma
imagem bem depressiva do futuro”.
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