Wednesday, December 26, 2018

TESOURO NACIONAL: CLAUDIA RAIA



Claudia Raia chegou à TV calçando sapatilhas. Filha da ex-bailarina e professora de balé clássico Odete Motta Raia, começou a ter aulas de dança aos 2 anos. “Com 12 para 13 anos, fui escolhida para ser a primeira bailarina do teatro do Balé de Câmara de São Paulo. Eu tinha uma carreira de bailarina. Então, nunca imaginei ser atriz”, revela. Aos 13, ganhou uma bolsa de estudos da American Ballet Theatre e foi morar sozinha em Nova York; também muito jovem, dançou profissionalmente na Argentina. Seu destino mudou quando entrou para o elenco do musical “A Chorus Line”, produzido por Walter Clark, aos 17. Depois de assistir a uma apresentação, o ator Jorge Dória se encantou por ela e a indicou para Cecil Thiré, diretor do humorístico "Viva o Gordo", estrelado por Jô Soares. Dias depois, o próprio Jô foi ver o espetáculo. “Ele adorou! Depois, foi para casa e escreveu um quadro para mim, que era o Vamos Malhar?”, conta.

Maria Cláudia Motta Raia nasceu no dia 23 de dezembro de 1966. No "Viva o Gordo", além de fazer dupla com Jô Soares, fez parte do corpo de baile do programa. Sua primeira novela foi 'Roque Santeiro" (1985), de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, na qual interpretou a dançarina Ninon. Embora pequeno, seu papel caiu no gosto do público e da crítica – ela ganhou o prêmio de Revelação Feminina da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). “Foi um sucesso que eu consegui fazer, no meio daquele estrondoso sucesso. Teve um dia em que desci do meu apartamento e dei de cara com uma banca de jornal, e eu era capa de todas as revistas”, lembra.

Em 1987, viveu a Edwiges de "O Outro", de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares. No mesmo ano, incorporou o sotaque ítalo-paulistano do bairro do Bixiga para interpretar a Tancinha, de “Sassaricando”, escrita por Silvio de Abreu, autor com quem manteria uma produtiva parceria. “Acho que foi uma das personagens de maior sucesso que fiz, mas malharam no início. Era uma mulherona, meio Sophia Loren, mas superingênua.”

Graças ao sucesso de Tancinha, foi convidada para fazer parte do elenco do humorístico “TV Pirata”, em 1988, ao lado de Débora Bloch, Diogo Vilela, Guilherme Karan, Louise Cardoso, Luiz Fernando Guimarães, Marco Nanini, Ney Latorraca, Cristina Pereira e Regina Casé. No programa, encarnou tipos antológicos, como a presidiária Tonhão. “Eu sempre fazia a gostosona, até que, depois do quarto programa, cheguei para o Guel Arraes e disse: ‘Olha, eu queria mudar’. Tonhão foi o meu maior sucesso no programa. Eu me descobri uma comediante de verdade, e descobri o estilo de comédia que gosto de fazer. As pessoas amam o “TV Pirata”, que era sofisticado e popular”, relembra.

A atriz teve que engordar 10 kg para compor Adriana, bailarina fora de forma e desastrada da novela “Rainha da Sucata” (1990), de Silvio de Abreu. “Silvio disse: ‘Escrevi um papel para você, mas queria que você engordasse, porque queria que fizesse a bailarina da coxa grossa, que nada dá certo para ela. E ela se apaixona por um gago. Quero que seja um casal de comédia: você e Antonio Fagundes’. Fiquei uma balofa!”, diz. Em 1992, deu vida a outro tipo marcante em sua carreira, a Maria Escandalosa da novela “Deus nos Acuda”, outra de Silvio de Abreu, coescrita por Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral. “Eu fazia a filha do Jorge Dória. Eram dois trambiqueiros.”

Em 1995, protagonizou a minissérie “Engraçadinha... Seus Amores e Seus Pecados”, adaptação da obra de Nelson Rodrigues por Leopoldo Serran, dirigida por Denise Saraceni. “Foi um trabalho duro, o texto era muito difícil. A personagem era uma evangélica que não sentia prazer, não teve orgasmos por 20 anos!”, recorda. No ano seguinte, estreou a versão para TV de seu musical “Não Fuja da Raia” (1996), escrito por Silvio de Abreu e dirigido por Jorge Fernando.


Voltou às novelas em 1998, para viver a vilã Ângela Vidal de “Torre de Babel”, mais uma de Silvio de Abreu. “As minhas mãos têm vida própria, e eu sou uma careteira de natureza. Então, quis fazer uma interpretação toda no olho. Fazer uma mulher fria, uma executiva dura”, conta. Silvio de Abreu – junto com Bosco Brasil e Alcides Nogueira – também escreveu para ela o seu papel mais inusitado: o transexual Ramona da novela “As Filhas da Mãe” (2001). “Não me pergunte como um transexual, num país que é machista e conservador, pôde ter feito tanto sucesso. De novo, fiz par com o Alexandre Borges, nós sempre fomos escalados juntos. As crianças diziam: ‘Ramona, você tem que ficar com o Leonardo! A gente está torcendo’. Era um sucesso inacreditável, foi uma novela ousada.”

Em “O Beijo do Vampiro”, (2002), de Antonio Calmon, viveu a esfuziante vampira Mina. Depois de interpretar a Tereza da minissérie “Mad Maria”, de Benedito Ruy Barbosa, a partir do romance de Márcio de Souza, encarnou a fogosa Safira de “Belíssima”, outra novela de Silvio de Abreu, ambas em 2005. Ao lado de Patrícia Pillar, foi a protagonista de “A Favorita” (2008), de João Emanuel Carneiro, um de seus papéis mais difíceis. Apresentada como vilã, ela passa por uma reviravolta radical no meio da trama. “O primeiro embate com a Patrícia foi uma cena muito difícil. Aliás, todos os encontros com ela foram duríssimos de fazer. Donatela era uma pessoa que só perdeu na vida. Perdeu os pais aos cinco anos, teve uma dupla sertaneja que também foi perdida, perdeu o marido assassinado, tinha uma filha que não era dela. Por isso, era tão insegura”, conta. E no remake de “Ti-Ti-Ti” (2010), escrita por Maria Adelaide Amaral a partir do original de Cassiano Gabus Mendes, voltou a contracenar com Alexandre Borges, o Jacques Leclair, como Jaqueline Maldonado.

Em 2012, interpretou novamente uma vilã, agora na novela “Salve Jorge”, de Gloria Perez. A trama trouxe a atriz no papel de Lívia, uma mulher elegante e sofisticada, acima de qualquer suspeita, mas que age como agenciadora no tráfico intenacional de pessoas. Em 2015, interpreta a vidente golpista Samantha, na novela “Alto Astral”.

Claudia Raia também tem uma reconhecida carreira teatral. Participou da peça “Splish Splash” (1998), produziu “A Pequena Loja dos Horrores” (1990) e deu continuidade ao musical “Não Fuja da Raia” com “Nas Raias da Loucura” (1993) e “Caia na Raia” (1996). Em 2000, esteve em cartaz com “Cinco Vezes Comédia”, com textos escritos por Mauro Rasi, Miguel Falabella e Patricya Travassos. No ano seguinte, atuou na montagem “O Beijo da Mulher Aranha”, ao lado de Miguel Falabella. Nos anos seguintes, estrelou diversos musicais, entre os quais, “Sweet Charity”, de 2006, e “Cabaret”, de 2011.

No cinema, participou de “Quarup” (1989), de Ruy Guerra, “Boca de Ouro” (1989), de Walter Avancini –- que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz da Associação de Críticos de São Paulo -–, e “Matou a Família e Foi ao Cinema” (1991), de Neville d’Almeida.

[Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Claudia Raia em 17/04/2002 e 10/05/2011.]






































  




































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