Claudia
Raia chegou à TV calçando sapatilhas. Filha da ex-bailarina e professora de
balé clássico Odete Motta Raia, começou a ter aulas de dança aos 2 anos. “Com
12 para 13 anos, fui escolhida para ser a primeira bailarina do teatro do Balé
de Câmara de São Paulo. Eu tinha uma carreira de bailarina. Então, nunca
imaginei ser atriz”, revela. Aos 13, ganhou uma bolsa de estudos da American
Ballet Theatre e foi morar sozinha em Nova York; também muito jovem, dançou
profissionalmente na Argentina. Seu destino mudou quando entrou para o elenco
do musical “A Chorus Line”, produzido por Walter Clark, aos 17. Depois de
assistir a uma apresentação, o ator Jorge Dória se encantou por ela e a indicou
para Cecil Thiré, diretor do humorístico "Viva o Gordo", estrelado por Jô Soares.
Dias depois, o próprio Jô foi ver o espetáculo. “Ele adorou! Depois, foi para
casa e escreveu um quadro para mim, que era o Vamos Malhar?”, conta.
Maria
Cláudia Motta Raia nasceu no dia 23 de dezembro de 1966. No "Viva o Gordo", além
de fazer dupla com Jô Soares, fez parte do corpo de baile do programa. Sua
primeira novela foi 'Roque Santeiro" (1985), de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, na
qual interpretou a dançarina Ninon. Embora pequeno, seu papel caiu no gosto do
público e da crítica – ela ganhou o prêmio de Revelação Feminina da Associação
Paulista de Críticos de Arte (APCA). “Foi um sucesso que eu consegui fazer, no
meio daquele estrondoso sucesso. Teve um dia em que desci do meu apartamento e
dei de cara com uma banca de jornal, e eu era capa de todas as revistas”,
lembra.
Em
1987, viveu a Edwiges de "O Outro", de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares. No
mesmo ano, incorporou o sotaque ítalo-paulistano do bairro do Bixiga para
interpretar a Tancinha, de “Sassaricando”, escrita por Silvio de Abreu, autor
com quem manteria uma produtiva parceria. “Acho que foi uma das personagens de
maior sucesso que fiz, mas malharam no início. Era uma mulherona, meio Sophia
Loren, mas superingênua.”
Graças
ao sucesso de Tancinha, foi convidada para fazer parte do elenco do humorístico
“TV Pirata”, em 1988, ao lado de Débora Bloch, Diogo Vilela, Guilherme Karan,
Louise Cardoso, Luiz Fernando Guimarães, Marco Nanini, Ney Latorraca, Cristina
Pereira e Regina Casé. No programa, encarnou tipos antológicos, como a
presidiária Tonhão. “Eu sempre fazia a gostosona, até que, depois do quarto
programa, cheguei para o Guel Arraes e disse: ‘Olha, eu queria mudar’. Tonhão
foi o meu maior sucesso no programa. Eu me descobri uma comediante de verdade,
e descobri o estilo de comédia que gosto de fazer. As pessoas amam o “TV Pirata”,
que era sofisticado e popular”, relembra.
A
atriz teve que engordar 10 kg para compor Adriana, bailarina fora de forma e
desastrada da novela “Rainha da Sucata” (1990), de Silvio de Abreu. “Silvio
disse: ‘Escrevi um papel para você, mas queria que você engordasse, porque
queria que fizesse a bailarina da coxa grossa, que nada dá certo para ela. E
ela se apaixona por um gago. Quero que seja um casal de comédia: você e Antonio
Fagundes’. Fiquei uma balofa!”, diz. Em 1992, deu vida a outro tipo marcante em
sua carreira, a Maria Escandalosa da novela “Deus nos Acuda”, outra de Silvio
de Abreu, coescrita por Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral. “Eu fazia a
filha do Jorge Dória. Eram dois trambiqueiros.”
Em
1995, protagonizou a minissérie “Engraçadinha... Seus Amores e Seus Pecados”,
adaptação da obra de Nelson Rodrigues por Leopoldo Serran, dirigida por Denise
Saraceni. “Foi um trabalho duro, o texto era muito difícil. A personagem era
uma evangélica que não sentia prazer, não teve orgasmos por 20 anos!”, recorda.
No ano seguinte, estreou a versão para TV de seu musical “Não Fuja da Raia”
(1996), escrito por Silvio de Abreu e dirigido por Jorge Fernando.
Voltou
às novelas em 1998, para viver a vilã Ângela Vidal de “Torre de Babel”, mais
uma de Silvio de Abreu. “As minhas mãos têm vida própria, e eu sou uma
careteira de natureza. Então, quis fazer uma interpretação toda no olho. Fazer
uma mulher fria, uma executiva dura”, conta. Silvio de Abreu – junto com Bosco
Brasil e Alcides Nogueira – também escreveu para ela o seu papel mais
inusitado: o transexual Ramona da novela “As Filhas da Mãe” (2001). “Não me
pergunte como um transexual, num país que é machista e conservador, pôde ter
feito tanto sucesso. De novo, fiz par com o Alexandre Borges, nós sempre fomos
escalados juntos. As crianças diziam: ‘Ramona, você tem que ficar com o
Leonardo! A gente está torcendo’. Era um sucesso inacreditável, foi uma novela
ousada.”
Em
“O Beijo do Vampiro”, (2002), de Antonio Calmon, viveu a esfuziante vampira
Mina. Depois de interpretar a Tereza da minissérie “Mad Maria”, de Benedito Ruy
Barbosa, a partir do romance de Márcio de Souza, encarnou a fogosa Safira de “Belíssima”,
outra novela de Silvio de Abreu, ambas em 2005. Ao lado de Patrícia Pillar, foi
a protagonista de “A Favorita” (2008), de João Emanuel Carneiro, um de seus
papéis mais difíceis. Apresentada como vilã, ela passa por uma reviravolta
radical no meio da trama. “O primeiro embate com a Patrícia foi uma cena muito
difícil. Aliás, todos os encontros com ela foram duríssimos de fazer. Donatela
era uma pessoa que só perdeu na vida. Perdeu os pais aos cinco anos, teve uma
dupla sertaneja que também foi perdida, perdeu o marido assassinado, tinha uma
filha que não era dela. Por isso, era tão insegura”, conta. E no remake de “Ti-Ti-Ti”
(2010), escrita por Maria Adelaide Amaral a partir do original de Cassiano
Gabus Mendes, voltou a contracenar com Alexandre Borges, o Jacques Leclair,
como Jaqueline Maldonado.
Em
2012, interpretou novamente uma vilã, agora na novela “Salve Jorge”, de Gloria
Perez. A trama trouxe a atriz no papel de Lívia, uma mulher elegante e
sofisticada, acima de qualquer suspeita, mas que age como agenciadora no
tráfico intenacional de pessoas. Em 2015, interpreta a vidente golpista
Samantha, na novela “Alto Astral”.
Claudia
Raia também tem uma reconhecida carreira teatral. Participou da peça “Splish
Splash” (1998), produziu “A Pequena Loja dos Horrores” (1990) e deu
continuidade ao musical “Não Fuja da Raia” com “Nas Raias da Loucura” (1993) e “Caia
na Raia” (1996). Em 2000, esteve em cartaz com “Cinco Vezes Comédia”, com
textos escritos por Mauro Rasi, Miguel Falabella e Patricya Travassos. No ano
seguinte, atuou na montagem “O Beijo da Mulher Aranha”, ao lado de Miguel
Falabella. Nos anos seguintes, estrelou diversos musicais, entre os quais, “Sweet
Charity”, de 2006, e “Cabaret”, de 2011.
No
cinema, participou de “Quarup” (1989), de Ruy Guerra, “Boca de Ouro” (1989), de
Walter Avancini –- que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz da Associação de
Críticos de São Paulo -–, e “Matou a Família e Foi ao Cinema” (1991), de
Neville d’Almeida.
[Depoimentos concedidos
ao Memória Globo por Claudia Raia em 17/04/2002 e 10/05/2011.]
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