ENTREVISTA COM
JESSICA ALBA
(Por Elaine
Guerini - STATUS 05/08/2011)
Aos 18 anos, a
beleza latina e a sexualidade explosiva de Jessica Alba impressionaram o
diretor de “Avatar”, James Cameron, que a escolheu para ser estrela de tevê.
Exibida de 2000 a 2002, a série de ação “Dark angel” foi uma das primeiras do
gênero a conquistar o público e a crítica com uma mulher à frente do elenco.
“Nós preparamos o terreno para ‘Alias’, com Jennifer Garner, que estourou
depois”, afirma Jessica, hoje com 30 anos. O sucesso da personagem Max Guevara,
uma heroína geneticamente modificada em laboratório, serviu de trampolim para o
cinema, onde a atriz se destacou no filme “Sin city – a cidade do pecado”
(2005) e na franquia “O quarteto fantástico” (2005 e 2007).
Filha de um
mexicano, ex-oficial da Força Aérea americana, e de uma dona de casa
descendente de franceses e dinamarqueses, Jessica sabe que Hollywood lhe abriu
as portas por conta de seus predicados físicos. Mas a mulher de olhar meigo
espera já ter provado que isso não a desqualifica como atriz. “Não há nada que eu
possa fazer sobre a minha aparência. Meu pai sempre brinca que herdei os bons
genes dele. O importante é o público e a indústria perceberem que não sou
superficial”, diz Jessica, um dos destaques do elenco de “O assassino em mim”,
lançamento exclusivo em DVD no Brasil. No drama, já nas lojas do País, ela
interpreta uma prostituta que é espancada pelo amante (Casey Affleck) até ficar
com o rosto desfigurado – a ponto de ser apelidada de “hambúrguer” no hospital.
“Passei cinco horas na cadeira do maquiador para rodar a cena. Foi traumático
olhar no espelho e me ver daquele jeito.” Leia a seguir os principais trechos
da entrevista realizada em dois encontros com a reportagem da Status, um em
Veneza e o outro em Nova York. O Brasil, ela diz que adoraria conhecer, mas
ainda não teve oportunidade. “Pela minha herança latina, acho que vou gostar.”
Como
avalia a sua trajetória na indústria do entretenimento, da heroína de série de
ação ao papel de mulherão sexy?
Sempre me senti muito atraída por protagonistas femininas fortes e poderosas,
como a de Sigourney Weaver em Alien – o oitavo passageiro, a de Linda Hamilton
em O exterminador do futuro e a de Natalie Portman em “O profissional”, ainda
que Natalie não passasse de uma garotinha, na época. Foi por causa dessas
mulheres que eu quis ser atriz. Tenho muito orgulho por ter protagonizado Dark
angel, que quebrou tabus na indústria. Até então as mulheres só tinham
estrelado seriados de ação que não eram levados a sério, como Buffy e Xena. E também
espero ter ajudado a quebrar alguns estereótipos, mostrando que as morenas de
origem latina, como eu, podem fazer tudo o que as loiras fazem no cinema.
– E sobre ter
conquistado o seu espaço nas telas com personagens de sexualidade explosiva,
como as de “Sin city”, “Mergulho radical” (2005), “Machete” (2010), “Entrando
numa fria maior ainda com a família” (2010) e no recente “O assassino em mim”?
Neste último, sua personagem roda várias cenas de cama, nua.
– Como não sou
exibicionista, nunca gostei de tirar a roupa no set. Só topo mostrar um pouco
do corpo se a nudez for justificada no roteiro. Ainda assim, nunca é fácil.
Geralmente, fico muito nervosa. Mas, em O assassino em mim, eu simplesmente não
teria como viver uma prostituta sem tirar a roupa. Seria ridículo.
– É verdade
que o papel mudou a sua visão sobre as prostitutas?
– Passei a
entender melhor o que levou as mulheres da década de 1950, período em que o
filme é ambientado, a escolher essa vida. Naquela época, as mulheres não tinham
muitas opções, principalmente as mais independentes. Ou elas se casavam e se
dedicavam ao marido e aos filhos ou não eram nada. Talvez a prostituição tenha
sido uma maneira de algumas encontrarem a sua liberdade, não precisando de um
homem para sustentá-las e dizer o que podiam e não podiam fazer. Admiro isso,
ainda que elas tenham usado a sexualidade para conseguir a independência. Se
pararmos para pensar, até hoje muitas mulheres usam a sua sexualidade para ser
sustentadas por um homem.
– A primeira
vez que a sua personagem apanha do amante, ela o encoraja a continuar. Como vê
o sexo apimentado com umas palmadas?
– Ainda que as
pessoas prefiram ver os relacionamentos amorosos saudáveis e agradáveis nas
telas, muitas vezes não é assim na vida real. Há pessoas que só conseguem
mostrar o seu amor pela outra através do sexo e da violência. E a pergunta é: o
que pode esperar um casal que baseia toda a sua relação nesses dois aspectos? É
por isso que acho a temática do filme importante. Ele trata desses amores de
natureza obscura.
– Como
reagiria, se um homem batesse em você?
– Eu bateria
de volta (risos).
– É complicado
fugir dos papéis que se apoiam na sua beleza?
– No início da
minha carreira, o que mais me preocupava era conseguir um trabalho atrás do
outro. Como queria me manter ocupada, não pensava muito no efeito que um
determinado papel teria a longo prazo. Foi por isso que fiz alguns filmes sem
profundidade, simplesmente aceitando os papéis que me ofereciam. Durante dez
anos da minha vida, tudo o que fiz foi trabalhar. Mas isso mudou desde que
engravidei da minha filha (Honor Marie Warren, de 2 anos, fruto do casamento
com o produtor Cash Warren, que ela conheceu durante as filmagens de O quarteto
fantástico, em 2005).
– Por quê?
– Quando parei
de trabalhar, percebi como eu não valorizava a minha família, os meus amigos. E
desde então tenho sido mais criteriosa na escolha dos papéis. Não vale a pena
ficar isolada das pessoas que amo e longe da minha filha. A não ser que o papel
seja muito interessante ou que eu tenha a oportunidade de trabalhar com os
melhores do ramo. Nunca um papel me desafiou tanto quanto o de O assassino em
mim.
– A ideia é
atuar cada vez menos daqui para a frente?
– Talvez.
Ainda quero evoluir como atriz e me desafiar artisticamente. A diferença é que
não me incomodo mais em ficar sem trabalhar. Nunca fui muito deslumbrada com
Hollywood e agora estou ainda mais pé no chão.
– Hollywood não
é tudo aquilo então?
– Não é. Não
sei por que as pessoas se apegam tanto ao glamour. Para mim, glamour é sinônimo
de sapato que acaba com os pés, de joias emprestadas e de vestidos que não nos
deixam respirar (risos). É divertido por um segundo, claro. Você se produz
toda, olha no espelho e se sente maravilhosa. Logo depois, no entanto, você se
dá conta de que ficará horas e horas com aquela roupa desconfortável e com os
seus pés doendo. Sinceramente, não sei o que há de tão glamoroso nisso.
– E a pressão
de estar sempre magra também incomoda?
– Existe, sim,
uma pressão para você estar sempre em forma, se quiser continuar nesse negócio.
Até para você ser vestida pelos estilistas é mais fácil, se você usar tamanho
pequeno. Como odeio fazer compras e experimentar roupas, confesso que a minha
maior motivação para ser magra é poder mandar comprar tudo no tamanho pequeno,
que é o padrão para Hollywood. Sou muito preguiçosa.
– Do jeito que
você fala, parece fácil ser tamanho “P” em Hollywood, onde o pequeno deve ser
ainda menor que no resto do mundo.
– Como tenho
de correr diariamente atrás de uma criança de 3 anos, isso funciona como um
treino, felizmente. A verdade é que não gosto de fazer ginástica. Detesto ir à
academia. Prefiro ficar em casa tomando vinho (risos). Mas sei que preciso
estar em forma. Então faço um pouco de exercícios e procuro cuidar muito bem da
alimentação. Na minha casa, tento comer apenas produtos orgânicos,
provavelmente a coisa mais saudável que faço. É por isso que gosto tanto de cozinhar
para mim e para minha família. Minha filha também só come o que é orgânico. Não
dou para Honor açúcar ou qualquer tipo de comida processada.
– Sua filha já
tem alguma noção do que a mãe faz, do que é ser estrela de cinema?
– Ela pensa
que eu trabalho num escritório (risos). Como ela geralmente me acompanha aos
sets de filmes, acha que o meu trailer é o meu escritório.
– Sempre soube
que queria ser mãe ainda nos seus 20 e poucos anos?
– Apesar de
ter-me isolado um pouco, nos anos em que filmei sem parar, acho que, no fundo,
sempre soube que a minha maior realização seria a familiar. Minha mãe conta
que, assim que meu irmão nasceu, eu disse: “Ele é meu. Deixe, eu cuido dele.”
Apesar de ser menos de dois anos mais velha do que ele, já queria que ele fosse
meu filho. Também sou a mais velha de uma turma de 14 primos e sempre gostei de
cuidar deles.
– Você se
preocupa em ficar próxima de suas raízes?
– Cresci numa
família mexicana-americana e isso é tudo que eu sei. Tenho vergonha de admitir
que não falo espanhol. Mas a verdade é que nunca falamos espanhol na nossa
casa. Mantemos a nossa cultura mexicana na medida do possível. Nos anos 1960,
meu pai e meus avós procuraram se enquadrar como cidadãos americanos, perdendo
um pouco dos costumes mexicanos. Infelizmente, era isso que a maioria dos
descendentes de outras nacionalidades fazia na época.
– É verdade
que, no início da carreira, você não queria ser rotulada como atriz de origem
latina?
– Não. O fato
é que muitas das minhas declarações sobre não falar espanhol foram tiradas do
contexto, dando a impressão de que eu não gostava das minhas raízes mexicanas.
Fico feliz por essa diferenciação de raças já estar ficando para trás. Espero
que a geração da minha filha não defina as pessoas pela cor.
– Como você e
seu marido são nomes de Hollywood, isso atrai ainda mais a atenção dos
paparazzi? Como lidam com o assédio da mídia?
– Encaramos
como ossos do ofício. Não podemos nos mudar de Los Angeles por conta do que
fazemos. Algumas pessoas viram celebridade por fazer coisas escandalosas.
Outras ganham fama simplesmente porque trabalham para a indústria do cinema,
como é o nosso caso. Já fico feliz por estarmos deste lado da cerca e não do
outro, onde as pessoas perdem a noção do ridículo, fazendo qualquer coisa para
aparecer. No nosso dia a dia, preferimos ficar bem longe dos holofotes. Ser
famoso é uma condição superestimada pelos anônimos.
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