AS
COMÉDIAS ROMÂNTICAS, OS AMORES E O ESTILO:
KATE HUDSON FAZ 40 ANOS
(por
Mauro Gonçalves, de Lisboa, para OBSERVADOR)
Não
foram só os 50 anos de Jennifer Aniston que apanharam o mundo de surpresa, nem
a ideia de que Jennifer Lopez também irá completar meio século de vida no
próximo verão. Kate Hudson, a eterna menina das comédias românticas de
Hollywood, chegou ao tão marcante patamar dos 40. Do dia 19 de abril de 1979
até hoje, ressalta a carreira no cinema, construída à base de filmes de sábado
à tarde, um Globo de Ouro, o fraquinho por músicos, três filhos e uma
genealogia impossível de contornar: Hudson sempre esteve predestinada a
envelhecer bem.
Kate
Garry Hudson veio ao mundo já com um pé (senão com os dois) em Hollywood. Filha
de Goldie Hawn e de Bill Hudson, quando nasceu, já a mãe tinha um Óscar em casa
— conquistou a estatueta dourada na categoria de Melhor Atriz Secundária com o
desempenho no filme “Flor de Cacto”, de 1969. O pai, figura menos proeminente,
dividiu a carreira entre a música e a televisão. Fez sucesso nos anos 70, como
membro do trio Hudson Brothers, enquanto o seu currículo cinematográfico não
foi muito mais longe, terminando no início da década de 90.
Não
é em vão que Kate — e o irmão Oliver, três anos mais velho — são vulgarmente
tomados como filhos do ator Kurt Russel. Os pais divorciaram-se em 1982, tendo
Goldie Hawn criado os dois filhos com o novo companheiro, com quem soma já 36
anos de união. Desde então que a cumplicidade com o padrasto é demonstrada
publicamente, dos jogos de basebol em família às aparições em passadeiras
vermelhas. Há dois anos, num podcast da ABC, a atriz falou sobre as primeiras
palavras que ouviu do padrasto, quando, em 2001, perdeu o Óscar para Marcia Gay
Harden. “Parabéns, agora podes ter a tua carreira”, confidenciou. “Foi uma
coisa tão incrível de se dizer, porque era só o início, eu tinha 21 anos […]”,
concluiu.
Em
1997, com 18 anos, entrou numa universidade, em Nova Iorque. Mas nunca chegou a
ir. Kate Hudson optou por ingressar, desde logo, na indústria dos filmes e teve
a sua estreia um ano depois, com o drama de Morgan J. Freeman “Desert Blue”.
Christina Ricci, Casey Affleck, Sara Gilbert e John Heard foram os atores com
quem partilhou o ecrã. Um ano depois, a primeira comédia romântica — “200
Cigarettes” –, onde contracenou com os irmãos Affleck.
A
partir daí, ascendeu não só como atriz, mas como personalidade mediática. Kate
Hudson já confessou sentir-se desconfortável quando se vê no ecrã, o que não a
tem impedido de explorar o estrelato em todas as suas dimensões. Em 2013,
associou-se à norte-americana JustFab e lançou a sua própria linha de roupa
desportiva, a Fabletics. Em 2016, lançou o primeiro livro — “Pretty Happy:
Healthy Ways to Love Your Body” (Muito Feliz: Formas saudáveis de Amar o Seu
Corpo) — e, um ano depois, chegou o segundo — “Pretty Fun: Creating and
Celebrating a Lifetime of Tradition” (Muito Divertida: a Criar e a Celebrar a
Tradição de uma Vida). Hudson colabora frequentemente com a Goldie Hawn
Foundation, organização criada pela mãe em 2003 para apoiar crianças nos seus
processos de aprendizagem.
Tal
como a boa forma, o humor ninguém lhe tira. O exercício físico disciplinado foi
sempre uma suspeita do público, embora a própria atriz garanta que o seu treino
diário de 20 minutos é o suficiente para manter uma figura invejável. Lá está,
a genética a funcionar. Já a boa disposição parece ser uma constante. No
Instagram, onde já ultrapassou os dez milhões de seguidores, Hudson partilha o
dia-a-dia da família, mas também algumas tiradas de humor. No ano passado,
quando Anthony Scaramucci, diretor de comunicação de Donald Trump, foi afastado
do cargo, dez dias após a tomada de posse do presidente dos Estados Unidos,
Kate Hudson não hesitou e partilhou a imagem dos dois com o título do filme que
protagonizou em 2003, o clássico “Como Perder um Homem em 10 Dias”. Em
fevereiro deste ano, outra publicação inusitada, dessa vez a cantar a música
“Shallow”, de Lady Gaga e Bradley Cooper, enquanto se exercitava numa máquina
de pilates.
Kate
Hudson já esteve em Portugal, pelo menos, uma vez. Apesar de a viagem ter
passado ao lado das redes sociais, foi Eurico de Barros, crítico de cinema do
Observador, a dar de caras com a atriz no verão de 2017, n’A Padaria Portuguesa
da Praça dos Restauradores, no centro de Lisboa, conforme nos recordou a
propósito desta efeméride. Sem maquilhagem, de óculos escuros e chapéu de
palha, sem que mais ninguém a reconhecesse, mostrou que sabe como passar
despercebida.
UM
GLOBO DE OURO E 10 DIAS PARA PERDER UM HOMEM: KATE HUDSON NO CINEMA
O
consagração de Kate Hudson como atriz chegou em 2000, com o filme de Cameron
Crowe “Quase Famosos”. Hudson foi destacada pela crítica, muito para além do
facto de um close-up da sua cara, com uns grandes óculos redondos e espelhados,
ter sido a imagem de divulgação do filme. O papel de Penny Lane valeu-lhe perto
de 30 nomeações nos mais diversos prémios. Entre eles, os Óscares, os Screen
Actors Guild Awards, os BAFTA e os Globos de Ouro. Para casa, levou este
último, no dia 21 de janeiro de 2001, na categoria de Melhor Atriz Secundária.
A conquista vou comemorada em grande. A atriz revelou, no início do ano
passado, que, na after party, foi o álcool a melhor forma de acalmar os nervos.
“Lembro-me de ter ficado muito bêbeda, foi essa a minha noite. Se te lembras de
ficar bêbeda, é porque não estavas realmente”, confidenciou.
A
vida de Kate Hudson seguiu e a carreira também, nitidamente conduzida na
direção de comédias românticas e blockbusters. Bem, “As Quatro Penas Brancas”
de Shekhar Kapur, em 2002, terão sido uma clara exceção no percurso da atriz na
primeira década dos anos 2000. No ano seguinte, chega “Como Perder um Homem em
10 Dias”, um fenómeno que rendeu mais de 100 milhões de dólares só nos Estados
Unidos. Se ao menos todas as comédias românticas de Hudson tivessem sido tão
bem sucedidas. “O Divórcio” (2003), “Alex e Emma” (2003), “A Educação de Helen”
(2004) e “A Namorada do Meu Melhor Amigo” (2008) ficaram aquém do fenómeno de
popularidade, embora pelo meio tenha havido exceções.
Em
2005, “A Chave” é a primeira incursão de Kate no universo de filmes de terror. “Eu,
Tu e o Emplastro”, com Owen Wilson e Matt Dillon, em 2006, foi outro sucesso de
bilheteira, embora tenha ficado atrás do êxito de 2003. Em 2008, volta a
contracenar com Matthew McConaughey, desta vez em “O Tesouro Encalhado”. À
semelhança de “Noivas em Guerra”, filme que a juntou a Anne Hathaway em 2009, o
sucesso foi assinalável mas não foi um recorde para a atriz. A década encerra
com “Nove”, de Rob Marshall, o primeiro e único musical de Kate Hudson até
hoje. Um desastre de bilheteira (não cobriu o orçamento do filme), apesar do
elenco de luxo — Daniel Day-Lewis, Marion Cotillard, Penélope Cruz, Nicole
Kidman e Judi Dench.
Em
2010, voltou ao género thriller com “O Assassino em Mim”, adaptação de Michael
Winterbottom. Seguiu-se mais um punhado de comédias românticas, com alguns
dramas à mistura. A série Glee veio em 2012, com Hudson no papel de uma
professora de dança. Curiosamente, a melhor bilheteira da carreira da atriz
chegou em 2016. “O Panda do Kung Fu 3” rendeu mais de 500 milhões de dólares. O
seu filme mais recente foi “Marshall”, de 2017.
CABELO
LOIRO, VERSACE E A MET GALA: UMA VIAGEM PELO RED CARPET
Na
moda como no cinema, Kate Hudson começou por pisar o terreno timidamente. Em
2001, nomeada para os principais prémios da indústria, desabrochou. Em janeiro
desse ano, escolheu um slip dress Vera Wang para ir aos Globos de Ouro e foi
com ele que conquistou o seu mais importante galardão até hoje. Semanas depois,
no Shrine Auditorium, garantiu, até hoje, lugar na lista dos visuais mais
icónicos dos Óscares. Desenhado por Stella McCartney, na altura ainda diretora
criativa da Chloé, o vestido tinha tanto de clássico — a silhueta — como de
arrojado, deixando as costas da atriz a descoberto, mas resguardando-lhe os
ombros e a parte superior do decote com uma capa curta que terminava em
franjas.
Desde
então que a relação de Hudson com as passadeiras vermelhas foi ficando cada vez
mais marcada pela proximidade com a casa Versace. Os Globos de Ouro de 2002, de
2006 e de 2015, os Óscares de 2003 e a Met Gala de 2016 — aquela em que Lady
Gaga lhe pôs a mão no rabo e, juntas, fizeram disso um momento — são os momentos
altos de uma parceria assente em silhuetas de sereia. Aliás, Hudson percebeu
cedo que esse era o seu vestido ideal, independentemente dos folhos românticos,
das rendas boémias, dos recortes reveladores e dos acabamentos brilhantes e
metalizados. A silhueta, essa, raramente muda.
O
carisma com que pisa a red carpet pode não ser o mais óbvio, mas é carisma. Ri,
agarra, contorce-se e acena e, ainda assim, tem a capacidade de encarar a
objetiva enquanto olha sobre o ombro. Se as costas estiverem nuas, tanto
melhor. Kate Hudson pode ter crescido com o glamour de Hollywood mesmo ao lado,
mas certamente que os genes de Goldie Hawn, atualmente com 73 anos, também têm
a sua quota-parte nesta fórmula. De todas as celebridades, é uma das presenças
mais assíduas na gala anual do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. Ano
após ano, sozinha ou com as amigas mais chegadas — entre elas a designer Stella
McCartney e a atriz Liv Tyler –, Hudson sobe a escadaria mais emblemática da
cidade e faz-se notar, mesmo que não assuma a natural extravagância que define
a noite.
O(S)
AMORES À MÚSICA
Há
claramente um padrão nas relações amorosas de Kate Hudson e esse não terá
certamente sido herdado da mãe. A atriz tem um fraquinho por músicos e não há
como negá-lo. Casou uma única vez, em 2000, com Chris Robinson, vocalista da
banda de rock The Black Crowes. Além das aparições públicas frequentes, o casal
viajou junto durante anos, quer durante as digressões de Robinson, quer durante
as filmagens da atriz. O primeiro filho, Ryder Robinson, chegou em janeiro de
2004, o divórcio efetivou-se em outubro de 2007.
A
relação com Matt Bellamy, vocalista dos Muse, começou em 2010. No ano seguinte,
ficaram noivos e foram pais. Nasceu Bingham Hawn Bellamy, o segundo filho da
atriz, e, três anos depois, o casal separou-se, sem que nunca tivesse chegado a
casar. No final de 2015, a imprensa fez ecos de um novo namoro, novamente com
uma personalidade da música. O homem em questão era Nick Jonas, 14 anos mais
novo. Sem grandes desenvolvimentos, o caso não terá ido além de meia dúzia de
encontros. Em 2017, a atriz conheceu o músico Danny Fujikawa. Estão juntos até
hoje e foram pais em outubro do ano passado. À terceira, nasceu Rani Rose
Hudson Fujikawa, a primeira filha de Kate Hudson. Em janeiro deste ano, a atriz
veio manifestar o desejo de criar a filha sem uma identidade de género definida.
“Ainda não sabemos com que género se irá identificar”.
No comments:
Post a Comment