VIVIANE
ARAÚJO: "NÃO ACORDO MONTADA, NEM TOMO BANHO SAMBANDO"
01/03/2019
POR CARLA NEVES PARA QUEM
Viviane
Araújo chega às nove da manhã em ponto à Casa QUEM, mansão com vista
privilegiada no Joá, no Rio de Janeiro, cedida pela AlugueTemporada a QUEM e
onde foi feito o ensaio de fotos desta capa. Ao lado de sua assessora de
imprensa, aceita o convite para tomar café da manhã enquanto espera o maquiador
chegar. Sem frescuras, come melão e torradinhas com manteiga e café. “Tenho um
compromisso às 13h. Será que conseguimos terminar tudo até lá?”, questiona a
atriz, explicando que anda com o tempo cronometrado nos últimos três meses. Aos
43 anos, ela tem conciliado as gravações de O Sétimo Guardião, onde interpreta
a misteriosa Neide, com os ensaios como rainha de bateria do Salgueiro, no Rio,
onde desfila desde 2008, e da Mancha Verde, em São Paulo, onde está desde 2005.
Há
duas décadas no Carnaval, Viviane conquistou credibilidade no meio do samba e
uma legião de fãs. Embora seja considerada por muitos “a rainha das rainhas”, a
atriz diverte-se com o título e acredita até que o público exagera um pouco.
“As pessoas acham que acordo sambando e com um penacho na cabeça. E não é
assim! Não acordo montada nem tomo banho sambando! (risos) Hoje, com as redes
sociais, as pessoas querem mostrar uma realidade que não existe. Quando vejo
alguém se mostrando de verdade, tiro o chapéu”, elogia.
Fã
de gente simples e "de verdade", a "dona do Carnaval"
também gosta de mostrar sua realidade - especialmente nas redes sociais (no
Instagram, ela tem 7,2 milhões de seguidores e no Twitter 758 mil seguidores).
“Às vezes não quero estar bonita 24 horas. Quero poder acordar, tirar uma foto
tomando café com uma olheira que é real. Não quero que as pessoas fiquem:
‘nossa, que olheira!’ Por que não posso tirar uma foto com a minha olheira?
Essa coisa da rede social de só postar mentirinha, coisa montada e artificial
me dá nojo!”, opina ela, que está solteira desde terminou o namoro de dois
meses com o engenheiro Klaus Barros, em abril do ano passado. “Vou curtir o
Carnaval sem ninguém enchendo meu saco. É muita agitação!”, entrega.
DE
OUTROS CARNAVAIS
À
frente da bateria do Salgueiro desde 2008, Vivi adotou a comunidade do Morro do
Salgueiro, no bairro do Andaraí, na Zona Norte do Rio, como sua família.
"É uma paixão. Meu carinho pela escola é enorme", derrete-se ela, que
tem o mesmo carinho pela comunidade da Mancha Verde, escola na qual é rainha de
bateria desde 2005 em São Paulo. "Já faz uns quatro anos que a Dudinha,
filha do presidente (Paulo Serdan), vem do meu lado. Achei tão carinhoso!
Porque ela pediu para mim se podia vir à frente da bateria. Eu vi a Duda nascer
e é muito fofo isso! Quando ela foi pedir para o pai, ele falou: 'você fala com
a Viviane'", conta ela, que será musa do Camarote QUEM O Globo na Sapucaí
pelo segundo ano consecutivo.
Vivi
está há tantos anos na Avenida que não lhe faltam histórias para contar. “Teve
um ano que estava desfilando num carro, começou a chover e comecei a levar
choque, não conseguia segurar no Santo Antônio (como são chamadas as barras de
segurança), foi uma loucura! Em outro ano, vinha com um tapa-sexo feito um
encaixe, em cima de um carro, e balançava tanto que tive que passar a Avenida
inteira com a minha perna fechada. Teve outro ano que meu biquíni arrebentou e
meu amigo foi consertar e cortou o dedo. Também já caí mas a sorte é que foi
quase na dispersão, então não teve tanto alarde. São muitas histórias!”,
afirma.
CASO
DE AMOR
Vivi
não é filha de grandes nomes do samba, nem cresceu entre pandeiros e violões.
Mas, desde pequena, sempre foi fascinada, além do normal, pelo universo
carnavalesco. “Meu pai (Jocenir Araujo, morto em 2013) sempre gostou e me
presenteava no fim de ano com CD de escola de samba, adorava ouvir. Gostava de
assistir às escolas na Sapucaí e meus pais me levavam para os bailes com meu
irmão. Minha avó materna fazia as minhas fantasias”, lembra.
Foi
só aos 20 anos, contudo, que ela desfilou no Sambódromo carioca pela primeira
vez. “Meu primeiro desfile foi em 1995 na Império da Tijuca, no Grupo de
Acesso. Desfilei num carro abre-alas. Como meu pai sempre foi muito fã de
Carnaval, ele pediu a um amigo que tinha um conhecido na escola que me
encaixou”, conta.
“Senti
uma alegria enorme, achei o máximo, me diverti para caramba. Aliás, me divertia
muito mais naquela época. É claro que hoje é mágico, diferente, mas não tinha
preocupação, responsabilidade com nada, era uma alegria só. Era uma menina indo
curtir o Carnaval. E curtia desfilando nas escolas. Quando comecei, desfilava
em várias escolas por noite. Estava ali para curtir, aproveitar, brincar
mesmo”, recorda.
SEM
PRETENSÕES
Criada
em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, ela sempre chamou atenção pela beleza e
simpatia. Mas nunca tinha pensado em ser
modelo ou atriz. “Uma amiga minha da época do colégio começou a fazer um curso
e falou: ‘vamos fazer, Viviane!’ E fui com ela fazer um curso de modelo e
manequim no Retiro dos Artistas. Comecei assim!”, diverte-se ela, que até hoje
mantém contato com tal amiga, responsável pelo empurrão inicial na carreira de
modelo. “Temos um grupo do colégio no WhatsApp e mantemos contato até hoje”.
Depois
do curso, Viviane tomou gosto pelo negócio e passou a se interessar por tudo o
que surgia sobre o assunto. “Fui conhecendo pessoas do meio e começaram a
surgir concursos de beleza. Fui fazendo e aquilo para mim era uma diversão
porque eu gostava. Mas não era uma coisa que eu me imaginava fazendo lá na
frente, eu fazia despretensiosamente, curtia aquilo ali de participar dos
concursos, de ganhar. Me enfiava em qualquer concurso”, conta, aos risos.
O
CONCURSO
Tudo
ficou mais sério quando Vivi ganhou o concurso Pantera do Carnaval, no Clube
Monte Líbano, na Zona Sul do Rio, em 1994. Na ocasião, ela já circulava pela
Marquês de Sapucaí a trabalho. “1994 foi o primeiro ano que fui para a Avenida
como promotora de uma marca de cerveja. Eu era uma daquelas meninas com a
camisa da marca, que distribui ventarola para os convidados. Tinha acabado de
ganhar o concurso Pantera do Carnaval e me chamaram para fazer. Foi a primeira
vez que pisei na Avenida e fiquei completamente encantada. Fiquei bem próxima
do setor 1 e falei: ‘ano que vem quero desfilar nessa Avenida porque deve ser
incrível’. E acabei desfilando na Unidos da Tijuca em 1995”, lembra.
Antes
do bem-sucedido casamento com o Salgueiro, Vivi passou por várias escolas de
samba do Rio, como Mangueira, Caprichosos de Pilares, União de Jacarepaguá,
Inocentes de Belford Roxo, Império Serrano e Mocidade. Foi nos ensaios que ela
aprimorou o seu jeito de sambar. “Comecei a sambar mesmo conforme fui me
envolvendo nos ensaios das escolas, observando as passistas e pegando todo o
jeito. É claro que sempre gostei de dançar. Desde criança, fazia jazz. Mas fui
aprimorando ao longo do tempo, com os ensaios e a observação”, conta.
OUTROS
CAMINHOS
Nem
todos sabem, mas Vivi é formada em Educação Física. “Entrei na faculdade com 17
anos. Gostava muito de academia e um amigo meu ia fazer e falou: ‘vamos fazer?
E eu fiz!’ Mas nunca exerci”, conta, recordando que conciliava o curso com os
concursos de beleza e o Carnaval. “Na televisão fui eleita Garota do Fantástico
em 1994 e depois participei do concurso para a nova morena do É o Tchan”.
Na
época, ela chegou até as semifinais e a vencedora foi Scheila Carvalho. “Acho
que não era para ser. Fiquei muito triste, chorei e a minha mãe (Dona Neusa)
falou para mim: ‘não fique assim, não era para ser, você vai ter coisa melhor
na vida’. E sempre acreditei nisso, sempre mesmo. A gente fica triste, mas não
tem que ficar se lamentando a vida inteira por não ter acontecido”, argumenta.
ATRIZ
Até
2001, Vivi nunca tinha pensado em ser atriz. Mas, por conta do Carnaval, foi
parar no humorístico A Escolinha do Professor Raimundo. Isso porque Paulo
Ghelli, diretor da atração, estava precisando de meninas com “a cara do Rio”
para interpretar Rosinha, personagem gostosona que apagava o quadro para o
Professor Raimundo, interpretado por Chico Anysio. “Foi assim que fiz meu
primeiro trabalho na TV e tudo foi acontecendo”, conta ela, que em 1998 fora
eleita a Musa do Carnaval.
“Antigamente
as pessoas te elegiam musa por algum motivo. Hoje em dia você é musa porque é
musa. Quem me consagrou musa naquele ano foi o Fernando Vanucci, que narrava os
desfiles na Globo. Foi o primeiro ano que vim como destaque de chão. E por
causa disso o Paulo Ghelli me chamou para fazer o teste para a Escolinha.
Passei e fiquei três anos fazendo a Rosinha”, diz.
Foi
aí que bateu a vontade em Vivi de aprender mais sobre interpretação. “Quando entrei na Escolinha, era crua mesmo,
não tinha noção de nada. Então pensei: ‘agora que estou aqui, preciso me
orientar e estudar’. Comecei a fazer cursos de interpretação e foi despertando
cada vez mais em mim esse desejo de atuar”, recorda.
RAINHA
HUMILDE
Capa
de várias revistas masculinas, Vivi coleciona elogios e o assédio dos fãs é
constante – seja pessoalmente, ou pelas redes sociais. Apesar de tudo de bom
que escuta, ela mantém os pés no chão. E – pasmem! – diz não se considerar um
símbolo sexual. “Acho que isso existe pelo fato de eu ter saído em várias
revistas, ter desfilado de peito de fora... Aí você fica naquele universo. Mas
não sei... Às vezes me considero sexy. Tem mulheres que realmente tem aquela
coisa: ‘sou bonita e gostosa 24 horas’. Eu acho que ser sexy está na atitude”,
argumenta.
Da
mesma forma, ela ri do título “rainha das rainhas”. “Isso é uma brincadeira.
Fico muito orgulhosa disso quando me chamam assim pela minha história dentro do
Carnaval. Porque passei por muitas coisas e fui conquistando o respeito aos
poucos. É difícil, ainda mais por ser uma mulher bonita, gostosa, que sai com
peito de fora na Avenida, construir e ganhar o respeito das escolas, dos
dirigentes, dos presidentes. E fico muito feliz e orgulhosa que consegui. Mas
não sou a rainha das rainhas. Tanto que nunca usei essa hashtag na minha vida.
Acho legal as pessoas chegarem para mim e falarem e não eu mesma”, conta.
PREPARAÇÃO
Com
62 quilos distribuídos em 1,64 metros de altura, Vivi malha o ano inteiro para
ter fôlego para encarar a Avenida no Rio e em São Paulo. “Sempre me cuido o ano
todo, mas não dá para fazer a rotina de treino o dia de Carnaval o ano todo
senão não vivo. Gosto de comer, de tomar meu uisquinho. Não dá para me privar
de tudo o ano todo. Quando chega mais perto do Carnaval, uns três meses antes,
dou uma intensificada, deixo de comer o que mais gosto”, confessa ela, que tem
medidas de rainha: 93 centímetros de busto, 69 de cintura, 105 de quadril e 63
de coxa.
A
atriz conta com a ajuda de dois personal trainers, um no Rio e outro em São
Paulo. “Preciso de personal porque treinar sozinha é um saco. A gente treina
porque tem que treinar, mas não fala para mim que é gostoso: ‘ah, vou para
academia malhar, que delícia!’ É mentira! Não pode ser gostoso porque dói, você
sofre, tem um desgaste. É legal depois, quando você começa a se olhar e vê o
resultado. Só que não vou feliz malhar, com um sorriso daqui até aqui! Vou
malhar com um sorriso de cão!”, confessa, aos risos.
Às
vésperas do Carnaval, Vivi treina todos os dias, duas horas, menos domingo.
“Faço musculação e gosto de correr, corro na praia e isso tem feito uma
diferença legal. Também faço exercício aeróbico”, conta ela, que fez um “detox
turbo” (sucos detox, chás, sopas e uma alimentação de baixo carboidrato) com a
consultora fitness Vanessa Rangeli para dar uma secada rápida (em 15 dias, ela
perdeu 3,5 quilos). “Me ajudou a dar uma desinchada, mas mantenho a forma
treinando e comendo bem”.
E
comer bem, para a atriz, é comer de tudo. “Não faço dietas loucas. Perto do
Carnaval não deixo de comer meu arroz e meu feijão. É claro que não como feijão
todo dia, mas como meu arroz, meu feijão, uma salada, uma carne. Peço para a
minha empregada cortar o sal e os condimentos de tudo. Como pão light,
torradinha. Não me privo do que gosto, mas reduzo as porções. E tiro o que não
é legal de comer mesmo, tipo açúcar. Mas não me ligo muito em doce. Adoro
massa, pizza, empadão. E bebo muita água”, explica ela, que fez o implante do
chip da beleza com a médica Caroline Frota. “O chip é para reposição hormonal,
me dá disposição, me deixa mais animada para o treino, para a vida, para tudo”.
BATALHADORA
Vencedora
da quinta edição de A Fazenda, em 2012, reality da Record em que ganhou R$2
milhões, Vivi admite viver bem com o que conseguiu conquistar até hoje.
“Consegui comprar imóvel, carro”, diz ela, admitindo que entrou no programa
pelo dinheiro e posou para as revistas masculinas pelo mesmo motivo. “Na época
foram surgindo convites e rolava uma grana bem legal. Fui fazendo, não tinha
pudor em relação a isso, nunca tive”, recorda.
Desde
a adolescência, a atriz é independente. “Nunca tive mesada de pai e mãe. Com 16
anos comecei a fazer feiras de exposição e ganhava meu dinheirinho”, orgulha-se
ela, que ajuda todo mundo. “Acontecem umas coisas inesperadas e o dinheiro está
ali para isso também, né? Não vai ter o dinheiro para ele ficar parado. Ajudo
todo mundo. E gosto de viajar, sair para comer, comprar”, acrescenta, aos
risos.
SONHO
De
relacionamentos longos, Vivi foi casada 9 anos com o cantor Belo e ficou outros
10 com o jogador de futebol Radamés, de quem se separou em meados de 2017, ela
tem vontade de ser mãe. “Vou ter um filho e meu pensamento é de ter com um
marido. Comecei a pensar em congelar meus óvulos há uns dois anos, mas foi
passando e não fiz. Quero ter um filho. Se não for naturalmente, posso adotar”,
planeja.
Prestes
a completar 44 anos, no dia 25 de março, a atriz está de bem com a vida e,
principalmente, com ela mesma. “Sempre me curti em todas as fases da minha
vida, nunca tive problema. Só quando entrei para a academia, em 2000, e comecei
a pegar pesado na malhação, meu peito ficou muito pequenininho e decidi colocar
prótese. Também já corrigi meu nariz, que tinha uma bolinha”, diz ela, que tem
sonhos simples. “Peço a Deus todos os dias que nunca me falte saúde e
trabalho”.
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